Título: Com julgamento adiado, Renan renova licença
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 22/11/2007, O País, p. 8

Presidente da CCJ diz que processo contra senador será votado na próxima quarta-feira.

BRASÍLIA. O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) renovou sua licença da presidência do Senado até o dia 29 de dezembro. A estratégia da oposição de adiar o novo julgamento do alagoano contribuiu para azedar o clima entre os aliados do governo. Irritado com as insinuações de que estaria manobrando para estender sua interinidade no comando do Senado, o presidente em exercício, Tião Viana (PT-AC), reclamou do "ambiente de especulação" e dos "delírios paranóicos" daqueles que questionam o cumprimento do regimento da Casa, num recado direto para seu colega alagoano. A situação, porém, acabou contornada com a decisão de Renan.

Viana mostrou irritação com as insinuações de aliados logo cedo. Na segunda-feira, ao ser avisado da possibilidade de adiamento do seu julgamento, Renan cogitou a possibilidade de reassumir o comando do Senado e se queixou de que seria "desumano, ilógico e esquizofrênico" o adiamento.

- O que não pode é ficar um ambiente de especulação, de delírio paranóico de que tem perseguição para A ou para B, só porque as decisões regimentais não agradam ora a A, ora a B. O regimento tem de ser maior que as emoções, que os delírios paranóicos. Se alguém estiver aborrecido com o cumprimento do regimento, como se diz popularmente, em sinônimo, dane-se! - desabafou Tião Viana.

Desentendimentos atrasam a discussão da CPMF

Em meio ao desentendimento na base, pelo segundo dia consecutivo o governo não conseguiu destravar a pauta do Senado. Com isso, a CPMF não pôde ter seu prazo de discussão iniciado, atrasando em mais uma semana o cronograma do governo. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), admitiu que o Congresso poderá ser autoconvocado depois do Natal se até o dia 24, quando começa o recesso, a CPMF não for votada. Jucá acredita que o primeiro turno será dia 14, já contando essa semana perdida, e o segundo turno ocorreria nos dias 20 ou 21.

Preocupado com a situação de confronto, o ex-presidente José Sarney entrou em campo. Aconselhou Renan a procurar Viana. Logo depois, Renan anunciou a renovação da licença.

- O senador Tião tem tido comigo o melhor relacionamento. Nos falamos ontem (anteontem) de cinco a seis vezes. A condução dele à frente da presidência tem sido impecável. Aceitarei qualquer data que seja marcada para o meu julgamento - minimizou Renan.

O presidente da CCJ, senador Marco Maciel (DEM-PE), disse que o processo contra Renan será votado na quarta-feira, o que abre espaço para que a matéria possa ser votada em plenário no dia seguinte, ou na semana subsequente.

Governo quer apoio dos tucanos para aprovar CPMF

O governo decidiu voltar a investir nos votos da bancada do PSDB para aprovar a prorrogação da CPMF. A expectativa é que a bancada não feche posição contra a CPMF. O governo aposta no poder de influência dos governadores tucanos junto aos senadores na convenção do partido, hoje e amanhã.

- Vários tucanos apóiam a CPMF. A governadora Yeda Crusius (PSDB-RS) chegou a fazer uma declaração contundente em defesa da prorrogação da CPMF. Vamos conversar com o PSDB. A tendência do partido é de não fechar questão. Neste caso, poderemos ter três ou quatro votos tucanos - observou o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia.

O Planalto quer investir no voto de senadores como Lúcia Vânia (GO) e Tasso Jereissati (CE). E naqueles que são sensíveis aos apelos dos governadores, como Eduardo Azeredo (PSDB-MG), aliado de Aécio Neves; João Tenório (PSDB-AL), que assumiu a vaga na suplência do governador Teotônio Vilela; e Cícero Lucena (PSDB-PB), que é próximo ao governador Cássio Cunha Lima.

- O governo não tem energia para aprovar a CPMF e vai tentar partir para a negociação individual. Mas práticas medievais não resolvem o problema - disse o senador Sérgio Guerra (PE), que assume hoje a presidência do PSDB.

COLABOROU Gerson Camarotti