Título: Jovem diz que era forçada a trocar sexo por comida
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Fonte: O Globo, 22/11/2007, O País, p. 11

Afastados delegados que prenderam menina com 20 homens.

BELÉM. A Polícia Civil do Pará afastou ontem os três delegados envolvidos na prisão de uma adolescente de 15 anos em Abaetetuba, a 56 quilômetros de Belém. Segundo o Conselho Tutelar, ela ficou presa por mais de um mês com 20 detentos homens e foi abusada sexualmente. Foram afastados o superintendente da Polícia Civil Fernando Cunha, o delegado Celso Viana e a delegada Flavia Verônica, que fez o flagrante e mandou a menor para a cela. Os agentes prisionais lotados na delegacia também foram afastados.

A jovem prestou depoimento na tarde de ontem na Corregedoria de Polícia, em Belém. Ela disse que era obrigada a manter relações sexuais com os presos em troca de comida. Os responsáveis pela prisão alegaram que não há ala feminina na cadeia. A menor foi detida por furto. O superintendente da Polícia Civil tinha cópia da certidão de nascimento da adolescente, mas alega que não sabia que a jovem era menor de idade.

- Se ela dissesse que era menor, seria dado um outro procedimento - afirmou.

Um detento o desmentiu:

- A gente "falamo" que era errado e "falamo" que ela era de menor. Não quiseram escutar, aí, né, levaram ela "pra" lá e ainda bateram nela.

Na tarde de anteontem, os 20 presos foram transferidos. Para representantes do Conselho Tutelar e do Centro de Menores, a prisão é indefensável.

- Ela deveria ter sido apresentada aos pais, feito o termo circunstanciado na delegacia, e, então, no primeiro dia útil, seria levada ao Ministério Público, se fosse o caso, para apuração do ato infracional - disse Celina Hamoy, do Centro de Menores.

Os conselheiros conversaram com a adolescente e confirmaram que ela sofreu violência:

- Ela se submetia a abuso sexual (...), a manter relação sexual com os presos em troca de comida, porque os parentes não tinham conhecimento da situação - contou a conselheira Diva Andrade.

Adolescente recebe apoio psicológico em abrigo

Os relatos da adolescente serão encaminhados ao Ministério Público.

A menor está em um abrigo de menores em Belém, onde recebe tratamento psicológico.

A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), disse ontem ter ficado "chocada" com o caso. A governadora admitiu que o caso pode não ser um fato isolado, mas disse que seu governo não tinha conhecimento da prisão de mulheres com homens no interior do estado.

- Chocou a mim também como mulher e como governadora - disse Ana Júlia, no Rio de Janeiro para um almoço com empresários. - Instauramos um inquérito para apurar responsabilidades e vamos punir de forma exemplar. Se ela tem 15, 20, 50, 80 anos ou até 100 anos, não importa. Uma mulher não poderia estar numa cela com homens.