Título: Nova crise do gás se anuncia
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 22/11/2007, Economia, p. 27

Falta de chuvas pode levar Petrobras a desviar combustível para usinas de novo em janeiro.

Opaís corre sério risco de sofrer novo desabastecimento de gás em janeiro, semelhante ao ocorrido em outubro, em razão da falta de chuvas em 2007. A advertência foi feita ontem pelo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, ao avaliar a proposta de elevar de 33% para 61% o volume mínimo de água nos reservatórios das hidrelétricas considerado seguro para geração de eletricidade, a chamada Curva de Aversão ao Risco, no biênio 2008/2009. Se o nível ficar igual ou inferior a esse percentual, as térmicas, movidas a gás, deverão ser acionadas para assegurar que não haverá apagão de energia, o que reduzirá o envio do combustível às distribuidoras.

A proposta de mudança foi feita na terça-feira pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e estará em consulta pública até 7 de dezembro. Caso seja aprovada, os novos parâmetros começam a valer em janeiro.

Os reservatórios de Sudeste e Centro-Oeste estão com 50% de seu volume de água. No início de dezembro, devem chegar a 52%. Pelas regras em vigor, o limite crítico em dezembro será de 28%, e em janeiro, de 33%. Se a proposta da ONS for aprovada, esse volume praticamente dobrará em janeiro. Analistas consideram muito difícil esses lagos acumularem, em menos de um mês, mais de 8% do volume d"água.

Estiagem causou a crise de 2001

Para Kelman, é alta a probabilidade de ser preciso acionar as térmicas para garantir a demanda. Com isso, a Petrobras terá de desviar o fornecimento do combustível dos postos de GNV (gás natural veicular) e das indústrias para as usinas:

- Se as térmicas tiverem de ser ligadas, podemos ter um problema de alocação de gás, talvez mais organizado que o do mês passado, mas, ainda assim, um problema.

Em outubro, a necessidade de desviar gás para as usinas térmicas levou à falta do combustível para postos de GNV e indústrias, sobretudo no Rio.

A Curva de Aversão ao Risco foi instituída em 2001, depois do racionamento de energia. Seu objetivo é alertar a sociedade para problemas nos reservatórios das usinas, de modo a planejar alternativas de geração elétrica. A proposta de revisão, do ONS, foi uma medida de cautela, diante da mudança de vários cenários do setor.

O primeiro, disse Kelman, é o fato de o Brasil não poder contar com a energia negociada com a Argentina, em razão de problemas de abastecimento do país vizinho. Além disso, não há gás suficiente para abastecer todas as térmicas do país. Apenas aquelas que fazem parte do termo de compromisso assinado entre Aneel e Petrobras este ano terão gás suficiente para gerar energia.

Outro fator preocupante é o período de chuvas de 2007. Desde setembro, quando ele começou no Sudeste e no Centro-Oeste, o volume está abaixo da média histórica. Em outubro, segundo o ONS, ficou em 63% da média. Em setembro, choveu 28% menos do que no mesmo mês de 2006. Em outubro, 48% menos. A esperança é que, em dezembro, o regime de chuvas se altere. O racionamento de 2001 foi causado exatamente por uma estiagem fora do comum no ano anterior.

Petróleo assusta, mas fecha em queda

O diretor-geral da Aneel ressaltou que o fato de as térmicas serem acionadas não representa risco imediato de apagão. A decisão de estabelecer um limite mais rigoroso, disse Kelman, gera um dilema para as autoridades. Segundo ele, pode-se determinar o patamar de 61% já em janeiro, forçando o deslocamento do gás para as térmicas, e chover bastante. Isso tornaria a medida inócua. Mas há o risco de não se determinar um novo padrão, e as chuvas não surgirem, reduzindo o volume dos reservatórios e aumentando o problema no futuro.

- Tomou-se a decisão certa. - avaliou Kelman.

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio, Julio Bueno, disse ontem que a proposta de acabar com o desconto de até 75% no IPVA para novos carros a gás foi freada pelo governador Sérgio Cabral. Bueno pretendia desestimular o consumo de gás para enfrentar a crise de abastecimento do produto. Segundo o secretário, o governador quer uma solução nacional para o problema. A secretaria vai preparar um estudo detalhado sobre o perfil dos convertedores.

- Temos aqui no Rio cerca de 120 mil conversões realizadas por ano. Precisamos saber como arranjar gás para estas pessoas - disse.

Ontem, com a divulgação de dados sobre estoques, o petróleo voltou a assombrar os mercados, mas acabou recuando. Houve também, segundo operadores, um movimento de embolso de lucros, devido ao feriado de Ação de Graças, hoje, nos EUA. O barril do tipo leve americano fechou em baixa de 0,76%, a US$97,29, após ter sido negociado a US$99,29 no início do pregão em Nova York. Em Londres, o Brent caiu 0,68%, a US$94,84.

COLABOROU Dimmi Amora, com agências internacionais