Título: Dilma chora em Minas
Autor: Morais, Márcio de
Fonte: Correio Braziliense, 18/04/2009, Política, p. 5

Ao ser indagada sobre a infância em Belo Horizonte, ministra citou Guimarães Rosa e, com os olhos lacrimejando, precisou fazer uma pausa no discurso. Em Minas, Dilma chorou ao relembrar da infância, visitou obras em favela e se reuniu com empresários A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do PT nas eleições presidenciais de 2010, se emocionou e chorou ontem, ao se relembrar a origem em Minas Gerais, a infância e a musicalidade que caracteriza a maneira mineira de falar. ¿Minas tem uma musicalidade na fala, é o som da minha infância¿, disse, indo às lágrimas e ao embargo na voz, que a obrigou a suspender por alguns instantes a entrevista realizada depois de palestra que proferiu para os empresários mineiros. O episódio ocorreu durante evento na Federação das Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em que a ministra, que tem fama de durona, compareceu para falar sobre a contribuição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no combate à crise econômica e sobre as medidas para estimular estados e municípios a vencerem as dificuldades provocadas pela falta de arrecadação.

Dilma Rousseff é a candidata petista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sucessão de 2010, mas, apesar de ter sido criada em Belo Horizonte, mudou-se para Porto Alegre no início da década de 1970. ¿Belo Horizonte é o lugar que me criei, passei minha juventude, fiquei adulta.¿ Segundo ela, mineiro tem melodia na fala, no jeito de ser, na relação com as pessoas.

Ela usou expressões típicas da cidade para descrever sua relação íntima com Belo Horizonte, como a expressão ¿descer Bahia e subir Floresta¿, recordou do trólebus que não existe mais e do Colégio Estadual Central e Sion, onde estudou. Ela estava cercada pelos ministros Hélio Costa (Comunicações), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) ¿ todos mineiros ¿ e do ex-prefeito Fernando Pimentel, de quem ficou amiga nos tempos da repressão. Ambos estiveram presos no mesmo período da ditadura militar.

Dilma fez questão de mostrar o seu lado mineiro, talvez como estratégia para buscar uma maior identificação com o eleitorado do estado, o segundo maior colégio eleitoral do país, atrás apenas de São Paulo. ¿O que acontece em Minas sempre impacta o Brasil de forma especial¿, disse, logo na abertura de sua palestra aos empresários. E, sempre que pôde, fez menção a sua mineiridade. Para descrever o sucesso econômico do governo Lula, disse que isso se deu graças à simplicidade e a aposta em programas de proteção social, que favoreceram a renda e o fortalecimento do mercado interno. ¿Não fizemos invenção de moda, como se diz aqui em Minas¿, afirmou.

Reforço Até a Cemig serviu de parâmetro para reforçar a sua caixinha de bondades para Minas: ¿A Cemig é elemento crucial para o mercado interno¿, afirmou, lembrando que projetos como o Luz para todos acabaram incluídos no PAC. Depois de almoçar na Fiemg, a ministra e seus colegas de governo partiram para atividades com ar mais eleitorais, como a convocação da população das comunidades do Morro das Pedras e Vila São José, onde inaugurou obras do PAC e entregou 80 apartamentos para a população carente. Mas ela não viu nada de campanha nos eventos: ¿Estou aqui como ministra do gabinete civil¿.