Título: Comissão aprova adesão da Venezuela ao Mercosul
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 22/11/2007, Economia, p. 29
Votação na CCJ virou duelo entre oposição e governo. Decisão segue agora para plenário da Câmara e, depois, para Senado.
BRASÍLIA. Por 44 votos a favor e 17 contra, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou ontem a adesão da Venezuela ao Mercosul. O anúncio foi feito pelo presidente da CCJ, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), depois de cinco horas de um acalorado debate, que teve como foco o governo do presidente venezuelano Hugo Chávez. Para a oposição, Chávez é um ditador. Para o governo, a Venezuela é maior do que seu presidente e não pode ser isolada na região.
Agora, a matéria vai ao plenário da Câmara - o que deverá acontecer até a próxima semana - e, se aprovada, seguirá para o Senado, onde poderá haver mais dificuldade para que seja dado o sinal verde ao ingresso da Venezuela como membro pleno do bloco. Há cerca de quatro meses, os senadores foram alvos diretos de fortes críticas feitas por Chávez, que ficou indignado com uma carta enviada pelos parlamentares pedindo que a emissora de televisão RCTV não tivesse sua licença cassada.
A votação se transformou num duelo, reunindo de um lado dois partidos adversários, o PT e o PSOL, a favor da adesão, e de outro lado, sobretudo, o DEM e o PSDB. O PMDB foi o fiel da balança. O líder do governo, José Múcio (PTB), teve que intervir para convencer o maior partido da base a apoiar a adesão. Mesmo assim, Marcelo Itagiba (RJ) chegou a encaminhar proposta de condicionar a adesão a um pedido de desculpas de Chávez ao Congresso.
A rebeldia dos peemedebistas começou na noite de terça-feira, quando um grupo articulava a apresentação de uma proposta de adiamento da votação, de olho na diretoria de Exploração da Petrobras. O líder do governo na Câmara, porém, conseguiu convencer os deputados a votar com o governo.
- Não prometemos nada, até porque há muitas coisas a serem decididas aqui ainda - afirmou José Múcio.
Durante a sessão, um dos mais críticos à entrada da Venezuela no Mercosul foi o deputado ACM Neto (DEM-BA):
- O Brasil não pode dar um cheque em branco a um ditador que quer não só se armar, mas gerar problemas futuros de médio e longo prazo. Vamos compor um mercado comum com um ditador?
Efraim Filho (DEM-PB) disse que aprovar a entrada da Venezuela seria "abrir as portas para Chávez avançar por sobre o Cone Sul". Já para José Genoino (PT-SP), a consolidação do bloco é o que se tem de mais moderno na geopolítica mundial. Ele lamentou que não estivesse sendo levado em conta a Venezuela como país, e sim seu governo. Chico Alencar (RJ), do PSOL, defendeu a entrada da Venezuela, mas deixou claro que é contra o governo Chávez, enquanto Ivan Valente (PSOL-SP) atacou a mídia:
- Vocês vão derrotar o Chávez e colocar quem no lugar?
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Após a aprovação do protocolo de adesão, o líder do governo na Casa destacou a parceria histórica do Brasil com o país vizinho e criticou a oposição por tentar politizar a matéria. Múcio disse que a relação comercial com a Venezuela é amplamente favorável ao Brasil e que não se deve valorizar demais a figura de Chávez, que é passageira, enquanto a parceria comercial continuará:
- Se o Chávez quer aparecer, a CCJ brindou isso a ele.
O discurso no Congresso estava alinhado na Esplanada. Enquanto as discussões corriam, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, davam declarações de apoio à entrada da Venezuela no bloco.
- A Venezuela importa do Brasil. É um mercado bom e é um país importante na América do Sul - disse Mantega.
Já Paulo Bernardo enfatizou que não cabe ao governo brasileiro entrar na discussão sobre democracia na Venezuela:
- Essas avaliações devem ser feitas por organismos internacionais.
COLABORARAM Martha Beck e Gustavo Paul