Título: Ministro nega pensamento único
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 22/11/2007, Economia, p. 32

Paulo Bernardo diz que Mangabeira e Pochmann não aceitariam censura no Ipea.

BRASÍLIA. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse ontem que não há como se instalar um "pensamento único" no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Foi a primeira vez que o ministro, ao qual o órgão já foi subordinado, manifestou-se sobre o polêmico afastamento de quatro pesquisadores críticos à política econômica do governo. O Ipea era ligado ao Ministério do Planejamento até junho, quando foi criada a Secretaria Especial de Planejamento Estratégico, comandada por Roberto Mangabeira Unger.

Para Paulo Bernardo, não há motivo que sustente a polêmica em torno do afastamento dos pesquisadores. Segundo ele, não faria sentido querer amordaçar o Ipea, pois a instituição não se conformaria com essa situação:

- Se alguém quiser fazer cerceamento ou amordaçar o Ipea, não vai conseguir. É a mesma coisa que amordaçar uma universidade. Ou seja, não prosperaria. Tenho certeza de que o ministro Mangabeira Unger e o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, jamais compactuariam com a idéia de fazer censura ou cerceamento do debate técnico no Ipea.

Bernardo admitiu que muitas vezes as análises produzidas pelo Ipea incomodam o governo. Ainda assim, o órgão continuará tendo opiniões diversas e plurais. O governo prefere assim, afirmou:

- Quando o Ipea estava no Planejamento, tivemos várias polêmicas, discussões. Às vezes a gente gosta do que eles falam, às vezes detesta, mas é essa a função do Ipea.

Na Fazenda, ordem é manter discrição sobre as mudanças

O economista Fábio Giambiagi, um dos afastados do Ipea, enviou a Bernardo um e-mail comunicando que vai trabalhar no BNDES, seu órgão de origem. Para o ministro, ali ele exercerá um cargo importante "em nosso governo". Giambiagi se notabilizou nos últimos anos, entre outros temas, por defender reformas na Previdência e medidas para conter o avanço de gastos correntes do governo.

- Conhecendo o Fábio como conheço, não acredito que ele vá deixar de dar sua opinião, quando tiver uma. O Ipea é um órgão plural e continuará sendo e é essa função que o governo quer que ele exerça.

No Ministério da Fazenda, a ordem é manter discrição em relação às recentes mudanças. Embora tenham sido afastados economistas com visão divergente da Fazenda, os técnicos assumiram o discurso de que a medida teve só razões técnicas.

- Ninguém morria de amores pelo Giambiagi, mas daí a dizer que ele está sendo sacrificado já é demais. Foi algo técnico por conta do convênio - afirmou uma fonte.

Segundo os técnicos, o ministro Mantega não participou da troca de comando do Ipea, que não está sob sua alçada.

COLABOROU Martha Beck