Título: Justiça francesa indicia Chirac
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 22/11/2007, O Mundo, p. 35

Ex-presidente é acusado de criar cargos fantasmas na prefeitura.

PARIS. O ex-presidente francês Jacques Chirac foi indiciado por malversação de fundos públicos e interrogado ontem pela Justiça, revelou seu advogado, Jean Veil. Segundo ele, Chirac, que perdeu sua imunidade em maio após deixar o Palácio do Eliseu, é acusado, entre outras coisas, de criar empregos fantasmas durante sua gestão à frente da prefeitura de Paris, entre 1977 e 1995. Ele é o primeiro presidente da história moderna da França a ser investigado formalmente pela Justiça. Como indiciado, ele poderá ter de enfrentar um júri, embora o juiz também possa encerrar o caso por falta de provas.

Veil disse que Chirac foi interrogado ontem pelo juiz Xaviere Simeoni e se declarou inocente. A acusação central sob foco no interrogatório diz respeito à criação de empregos na prefeitura de Paris para simpatizantes de centro-direita. Chirac também é acusado, num processo paralelo, de ter criado postos fantasmas.

¿ Ele disse que os empregos foram perfeitamente legítimos e as contratações foram de interesse para a gestão municipal ¿ disse Veil, após o interrogatório, acrescentando que o ex-presidente será interrogado novamente nos ¿próximos meses¿ sobre os cargos fantasmas.

Durante os 18 anos de sua administração à frente da capital francesa, Chirac construiu uma grande máquina partidária, que lhe permitiu obter controle firme dos aspectos principais da gestão municipal. Num artigo publicado ontem em um jornal francês, o ex-presidente afirmou que fez contratações ¿legítimas e necessárias¿, que o ajudaram a revitalizar Paris. Segundo ele, apenas um pequeno número, em torno de 40 mil servidores, está sendo questionado.

¿Quem eram essas pessoas? Gente que me ajudou a esclarecer questões substanciais ¿ problemas educacionais, sociais, econômicos e esportivos¿, escreveu Chirac. Os quatro chefes de gabinete de Chirac entre 1983 e 1995 também foram indiciados. Há ainda outras pessoas sendo investigadas, inclusive um neto do ex-presidente Charles de Gaulle, o irmão do ex-porta-voz da Assembléia Nacional Jean-Louis Debre, e Marc Blondel, ex-líder do sindicato Força Operária.