Título: Sarkozy reage a sabotagem
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 22/11/2007, O Mundo, p. 35

Presidente francês diz que punirá com rigor atos de vandalismo em meio à greve de transportes.

Ogoverno e a empresa ferroviária da França denunciaram ontem uma ¿ação coordenada de sabotagem¿ em trens do país, que tumultuou ainda mais o sistema de transportes. E justamente no dia em que sindicatos e empresas se reuniram para negociar uma saída para o maior desafio até agora do governo de Nicolas Sarkozy: uma greve que se arrasta há mais de uma semana nos transportes, em protesto contra planos do governo para reformar aposentadorias especiais.

A SNCF ¿ que administra os trens ¿ explorou os atos de vandalismo, como se tivessem sido orquestrados por grevistas. Mas os sindicatos negaram qualquer ligação. O governo também não perdeu a ocasião. O presidente Nicolas Sarkozy disse que a sabotagem era ¿inaceitável¿ e afirmou que vai buscar os culpados. Numa reunião no Conselho de Ministros, o presidente pediu que os atos seja punidos ¿com a mais extrema severidade¿ e disse que o governo ¿não vai cair na armadilha da provocação¿.

Alvos foram trens de alta velocidade

Os ataques aconteceram entre 6h10m e 6h30m no horário de Paris (entre 3h10m e 3h30m no horário de Brasília). Os alvos foram os trens de alta velocidade (TGV). Houve queima de cabos elétricos e dos sinais de circulação que orientam os condutores. Segundo a SNCF, numa das linhas um incêndio nos cabos acabou afetando a rede de sinalização ao longo de 30 quilômetros. Nenhum trem pôde circular e vários tiveram que ser desviados para outros circuitos. Nas linhas Norte e Sudeste também houve destruição do sistema de sinalização. No TGV Leste houve incêndio nos cabos, o que impediu a circulação normal dos trens.

Os ataques tiveram outro efeito: aumentar a tensão na negociação delicada entre governo, empresa e sindicalistas para colocar fim à greve. Os sindicalistas votam hoje de manhã se continuarão ou não com a paralisação nos transportes.

Bernard Thibault, que comanda a CGT ¿ o mais poderoso sindicato ¿ condenou os ataques, dizendo que eram atos ¿inqualificáveis¿, cometidos por ¿frouxos¿. Mas lançou uma dúvida sobre os autores da sabotagem:

¿ É uma provocação ou uma manipulação? Não sei. Mas não vão nos desviar do assunto que está no centro do conflito, que é o futuro do sistema de aposentadorias ¿ disse.

Pontos positivos na primeira reunião

Também sindicalista, Didier Le Reste deu a entender que os ataques podem ter sido orquestrados para ¿desacreditar¿ os grevistas. Ou seja: o governo ou a empresa estariam por trás disso.

¿ Estes atos podem ter conseqüências graves para a segurança ferroviária. Quem tem interesse nesse tipo de ação? Será que não são uma relação de causa e efeito com as negociações que se abrem hoje (ontem)? ¿ perguntou Le Reste.

No centro da greve no setor de transportes que afeta a França há mais de uma semana está um plano do governo de Nicolas Sarkozy de reformar os regimes especiais de aposentadoria. Este regime permite que trabalhadores nas áreas de transporte se aposentem depois de 37,5 anos de contribuição, e não 40 anos, como faz a maioria dos trabalhadores franceses.

Ontem, pela primeira vez, governo, sindicatos e empresas se reuniram para negociar uma saída para a crise. Os sindicatos reconhecem que as discussões estão avançando. Um dos pontos positivos é a disposição da empresa de incorporar nos salários algumas vantagens que são oferecidas por fora da remuneração básica. Mas os sindicatos disseram que a manutenção ou não da greve vai ser decidida pela ¿base¿, isto é, pelos militantes. Na SNCF, a empresa de trens, apenas sindicatos minoritários estão defendendo acabar com a greve. Por outro lado, a greve, está se esvaziando. Na mesma SNCF, a previsão é de que hoje dois a cada três trens de alta velocidade estarão funcionando.