Título: No Senado, aprovar tributo fica difícil
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 23/11/2007, O País, p. 8

Para oposição, o momento é de aproveitar queda de Mares Guia do ministério.

BRASÍLIA. A substituição de Walfrido dos Mares Guia pelo deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE), para comandar o Mistério das Relações Institucionais, não mudou a difícil situação do governo no Senado, onde os líderes da base não conseguiram ainda garantir os 49 votos necessários para prorrogar a CPMF. O calendário está cada vez mais apertado para a votação da matéria. A avaliação é a de que falta articulação política do Palácio do Planalto junto ao Senado e que o governo novamente escolheu para o cargo um deputado, o que não melhora a situação entre os senadores.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) - amigo de Mares Guia e de José Múcio -, faz "dobradinhas" com os dois. Mesmo assim, admitiu que a mudança não tem o poder de alterar a situação no Senado.

- Não ganho e nem perco um voto com isso. Tenho que continuar trabalhando -- resumiu Jucá.

No Senado, articulações são feitas por Jucá e Roseana

No caso do Senado, a ingerência do articulador político do Planalto é menor do que na Câmara, porque as articulações, na prática, são feitas por Jucá e pela líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA). Nos últimos dias, os senadores já comentavam a fragilidade de Mares Guia, que teve que cancelar um almoço no início da semana com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois que senadores do partido disseram que não compareceriam.

Para Casagrande, tensão da base aliada aumentará

Para o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), a saída de um ministro das Relações Institucionais neste momento, aliada ao movimento do PTB de sair do bloco governista no Senado, apenas aumentará a tensão e as dificuldades da base aliada. Ele disse acreditar que, por mais talentoso que José Múcio seja em negociações, ainda há um vácuo a ser preenchido.

- Se já estava difícil, continua difícil. O governo não está articulado para quem quer votar. Representa uma dificuldade na medida em que é a saída do articulador político do governo. Cria-se uma instabilidade num momento em que o governo não tem tempo para isso, no caso da CPMF. O governo está vivendo o seu inferno astral - disse Casagrande.

Para a oposição, a queda de Mares Guia reforçou a fraqueza da articulação política do governo Lula. O líder do DEM, José Agripino Maia (RN), disse que a demissão é um duro golpe no governo Lula e complica ainda mais sua situação.

- É um revés pesado para a já capenga articulação política do governo Lula. Walfrido era um peão, tinha bom trânsito. Perder um ministro que é articulador político a esta altura é complicado. Temos que aproveitar o momento - disse Agripino.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) reconheceu que o governo terá que trabalhar muito ainda para aprovar a CPMF. Elogiou José Múcio, mas ressalvou, evitando críticas, que sempre foram escolhidos deputados para o cargo: Aldo Rebelo, Jaques Wagner, Tarso Genro (que foi deputado), Mares Guia e, agora, José Múcio.