Título: Governo faz troca rápida no ministério
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 23/11/2007, O País, p. 8

OS 15 DO ESQUEMA MINEIRO: Nomeação de mais um deputado como articulador político é criticada por senadores.

José Múcio, também do PTB, toma posse em cerimônia improvisada.

BRASÍLIA. O ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia - que em setembro já havia posto o cargo à disposição -, pediu ontem afastamento do governo, após o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, o denunciar ao Supremo Tribunal Federal por envolvimento no valerioduto mineiro. O governo, que tenta aprovar a CPMF no Senado, agiu rapidamente e escolheu o líder na Câmara, José Múcio (PTB-PE), para substituí-lo. No lugar de Múcio, assumirá o vice-líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS).

Mares Guia, vice do tucano Eduardo Azeredo no governo de Minas, de 1995 e 1998, apresentou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na qual critica a acusação contra ele, reafirma sua inocência e diz que deixa a função para se dedicar à sua defesa. À noite, Mares Guia fez um comunicado sobre sua saída, e Múcio o elogiou, dizendo que substituía um grande amigo. Lula não compareceu à improvisada cerimônia, mas o porta-voz, Marcelo Baumbach, leu uma nota em que o presidente aceita, mas lamenta a saída do auxiliar.

Mares Guia avisou a Lula que deixaria ministério

A mudança de postura de Mares Guia foi comunicada a Lula antes de a denúncia do procurador se tornar pública. Há cerca de dez dias, Mares Guia procurou Lula para lhe dizer que estava determinado a deixar o cargo. Afirmou que obtivera informações de que o procurador iria "pegar pesado", o que, de fato, ocorreu. Ele ponderou que, se ficasse, estaria sob permanente ataque, contaminando o governo.

Na ocasião, Lula reafirmou que gostaria que ele ficasse e o mandou aguardar. Na primeira vez que Mares Guia pôs o cargo à disposição, em setembro, o presidente o tranqüilizou. Disse que tudo ainda estava no terreno das hipóteses. O próprio Mares Guia não tinha, na ocasião, convicção de que seria denunciado.

Desta vez, o ministro estava decidido. Anteontem, quando voltou a falar com Lula, já havia conversado com a família e companheiros mais próximos. Em conversa com O GLOBO, disse anteontem que estava pessimista, mas que não sabia quando a denúncia seria apresentada.

Múcio diz que CPMF será sua prioridade

A opção por José Múcio para substituí-lo começou a ser discutida seriamente há cerca de dez dias - embora seu nome já tivesse sido citado há cerca de um mês. O presidente o via como uma opção natural, já que Múcio e Mares Guia, ambos do PTB, trabalham juntos em projetos de interesse do governo.

Além disso, Lula não queria demorar para encontrar um outro nome para o ministério, com receio de que a base uma disputasse o cargo. Antes da escolha de Mares Guia para a pasta, o PT tentou, várias vezes, reaver a função. Esse mesmo pensamento de continuidade determinou a opção por Henrique Fontana (PT-RS) para o lugar de Múcio.

Múcio disse que vai priorizar a aprovação da CPMF.

Nas declarações de ontem, no Palácio, com transmissão de TV da Radiobrás, só sete parlamentares compareceram. Alguns disseram que estavam no Palácio por outra razão e decidiram prestigiar o novo líder. Não há previsão de uma transmissão formal de cargo.