Título: Denúncia estraga a festa tucana
Autor: Camarotti, Gerson; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 23/11/2007, O País, p. 12

Estrelas do PSDB se esforçaram para contornar o clima de constrangimento e pregam união.

BRASÍLIA. O que era para ser um dia de festa no PSDB, com a largada do projeto para tentar voltar ao poder em 2010, acabou marcado por duas notícias negativas para os 1.200 participantes de todo o país que foram ao Congresso do partido: a formalização da denúncia contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) pela participação no valerioduto mineiro, e a suspensão do programa anual do partido que iria ao ar ontem em cadeia de rádio e TV, determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que aceitou a tese do PT de que o programa do PSDB do ano passado foi usado indevidamente para propaganda fora de época do candidato Geraldo Alckmin.

Mas, na despedida do presidente Tasso Jereissati (CE), que passa o comando hoje para o senador Sérgio Guerra, as estrelas do PSDB se esforçaram para evitar o clima negativo e demonstrar coesão para superar crises, e não errar nas campanhas de 2008 e 2010. Um dos mais animados e aplaudidos, o governador de Minas, Aécio Neves, deu o grito de guerra: "Que nos aguarde o Brasil. Em 2010 é PSDB de novo! ":

- Vamos sair daqui hoje determinados a construir a unidade para voltar ao governo e superar o tempo do desperdício desse governo, da comemoração de resultados medíocres como se fossem fantásticos.

Ele chegou muito atrasado, quando discursava o governador José Serra (SP), que teve de interromper a fala até que cessassem os aplausos ao mineiro e até que terminassem os cumprimentos na mesa. Mas Serra estava bem humorado. Quando o ex-governador Geraldo Alckmin, sentado ao lado do governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal, disse que suas carecas estavam se confundindo, Serra brincou:

- A do Arruda é mais brilhante, dá para se pentear olhando nela.

Em seu discurso, Serra disse que não havia nada do que se envergonhar dos feitos do PSDB em seus quase 20 anos. Defendeu a privatização, como também fizeram Fernando Henrique Cardoso e outros tucanos. Coube ao deputado José Anibal (SP) anunciar a presença dos convidados presentes: Marco Maciel (DEM-PE), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Roberto Freire (PPS-PE) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) - este último, cassado pela Câmara e denunciado no caso do mensalão, amargou uma vaia.

Antes de entrar no plenário, Fernando Henrique fez questão de afastar o fantasma de nova disputa interna para a escolha do candidato do partido á sucessão de Lula, em 2010.

- Os dois são maduros e vão avaliar o que vai acontecer mais adiante - disse ele, que considerou de difícil execução a realização de prévias.

Na abertura do Congresso, Tasso criticou o populismo do governo Lula, o loteamento das estatais e defendeu as privatizações. Disse que o PSDB no governo venceu os desafios da inflação e da dívida externa. Sobre as privatizações, lembrou que o processo fazia parte da estratégia de modernizar o Estado:

- As empresas dos setores de telefonia e siderurgia eram utilizadas para o apadrinhamento e aparelhamento, em detrimento da população. Já pensaram o que seria da telefonia, da Companhia Vale do Rio Doce, das empresas de distribuição de energia nas mãos do PT e do PMDB dividido? Hoje a Petrobras é uma colcha de retalhos repartida entre os partidos aliados do Planalto.