Título: Giambiagi prega reformas ao analisar 17 anos de política fiscal
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Fonte: O Globo, 23/11/2007, Economia, p. 35

Em seu último trabalho no Ipea, ele volta a criticar governo. Em SP, diz que "fim da CPMF não é o fim"

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Em sua última análise como economista do Ipea, Fabio Giambiagi, agora no BNDES, reforçou suas convicções sobre a necessidade de o país implementar um ajuste na maneira como gasta. Em um texto intitulado "Dezessete Anos de Política Fiscal no Brasil", ele fez um balanço da trajetória das contas públicas entre 1991 e 2007. E advertiu que sem reformas que contenham a elevação das despesas e reduzam a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), o Estado não terá condições de realizar as obras de infra-estrutura necessárias e verá frustrada a expectativa de crescimento sustentável de 5% ao ano, como tanto promete o governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Giambiagi está no centro da polêmica em torno da decisão da atual diretoria do Ipea de afastar quatro pesquisadores críticos à política econômica do governo. Funcionário do BNDES, o economista estava cedido há alguns anos ao Ipea, e a justificativa oficial para sua saída foi o fim de um convênio entre as duas instituições federais. De acordo com a assessoria do Ipea, o texto estava pronto há alguns meses - embora tenha sido tornado público esta semana - e não tem qualquer relação com seu afastamento.

A análise mostra que nos últimos 17 anos o gasto da União aumentou de 13,7% para 21,8% do PIB. Isso representa uma taxa média anual de expansão de quase 6%, mais de duas vezes o crescimento médio da economia. Giambiagi ressaltou que a gastança federal é um fenômeno que vem ocorrendo ao longo dos anos e não é prerrogativa do governo atual, que apenas consolidou o processo.

"A tendência ao aumento da despesa como proporção do PIB, de fato, iniciada no governo Sarney (1985 -1989), percorre a administração Collor/Itamar Franco (1990-1994); intensificou-se nos oito anos do Governo FHC (1995-2002), ainda que atenuada pela mudança metodológica que aumentou o PIB na nova metodologia do IBGE a partir de 1995; e consolidou-se nos dois governos de Lula, de 2003 em diante. Em todos os casos, cada presidente entregou o país no final do mandato com uma despesa maior", escreve o pesquisador.

Giambiagi afirma que as discussões sobre a necessidade de um ajuste fiscal no Brasil são pautadas, geralmente, por um argumento equivocado: a de que devem ser cortadas despesas com a máquina pública para que se abra espaço para a elevação dos gastos sociais. Sua análise mostra, porém, que esse argumento não vale, pois boa parte do aumento de despesas do período refere-se a esses "gastos sociais", principalmente previdência e assistência social, mas também saúde, educação e reforma agrária. Em 1991, esse conjunto que Giambiagi chama de social representava 6,4% do PIB. Em 2007, passou a 12,9%.

Em São Paulo, durante seminário que teve a presença do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e no seu primeiro compromisso público desde a saída do Ipea, Giambiagi disse que a possível extinção da CPMF não vai "representar o fim do mundo", ao contrário do que propaga o governo federal. Segundo ele ainda, a equipe econômica terá de "parar de fazer de conta" e mexer na caderneta de poupança, para adequar sua remuneração à queda gradual da taxa básica de juros.