Título: Governo prevê luta por adesão da Venezuela
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 23/11/2007, Economia, p. 37

Parlamentares de oposição prometem "levantar barricadas" contra protocolo de entrada do país vizinho no Mercosul.

BRASÍLIA. O governo avalia que o processo de adesão da Venezuela ao Mercosul passa por um de seus momentos mais delicados. Embora tenha conseguido aprovar a entrada do país na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o Executivo assiste à ameaça de obstrução da matéria no plenário da Câmara pela oposição e já prevê uma luta árdua no Senado, onde parlamentares, como o líder do DEM na Casa, Agripino Maia, prometem "levantar barricadas" contra o protocolo de adesão.

No cenário externo, a situação também se complica. Tradicionais adversários políticos do venezuelano Hugo Chávez, os presidentes da Colômbia, Álvaro Uribe, e do Peru, Alan García, chamaram a Venezuela de volta à Comunidade Andina de Nações (CAN). Chávez decidiu sair do bloco ao assinar, em meados do ano passado, o protocolo de adesão ao Mercosul. Levando-se em conta a volatilidade do humor do líder venezuelano, nada impede que haja uma reviravolta.

Chamado, entre outros nomes, de cafajeste e ditador pelos parlamentares da oposição nas discussões para aprovação do protocolo de adesão, Chávez vem se mantendo quieto, mas pode reagir a qualquer momento, especialmente se aumentar o grau de dificuldade no Congresso brasileiro.

Especialistas temem prejuízo nas relações comerciais

Segundo fontes da área diplomática, as provocações e um eventual veto ao protocolo no Congresso poderão afetar até mesmo as ótimas relações econômicas entre Brasil e Venezuela. Afinal, se o Brasil vende tanto para os venezuelanos, com um superávit de nada menos do que US$3 bilhões, é porque o presidente daquele país concede preferências às importações brasileiras.

O presidente da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela, José Francisco Marcondes, vai além.

- Não há dúvida de que as relações econômicas bilaterais serão prejudicadas. Todos os benefícios negociados ao longo dos últimos 20 anos entre ambos os países estão embutidos dentro do protocolo de adesão que hoje está em fase de votação. Ao cair, cai todo o comércio junto - afirmou.

Na Câmara, o DEM já decidiu obstruir a votação do protocolo no plenário, ou seja, os parlamentares registrarão presença, mas não votarão o texto. Os tucanos devem acompanhar o procedimento. A situação preocupa o líder do governo na Casa, Beto Albuquerque (PSB-RS).

- Quem perde com isso é o Brasil, que é o carro-chefe do Mercosul. É extremamente interessante para nós termos no Mercosul o quarto PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos no país) da América Latina. O Mercosul precisa se fortalecer - disse o parlamentar.

Partido de oposição ao governo, o PSOL também decidiu defender o ingresso dos venezuelanos como sócios plenos do bloco. De acordo com o deputado Chico Alencar (RJ), um país rico em petróleo e com o potencial econômico como a Venezuela não pode ser desconsiderado. Sobre a classificação de Chávez como ditador, feita por DEM e PSDB, Alencar comentou:

- Quem dera que qualquer general brasileiro tivesse sido eleito duas vezes pela população e se submetido a um referendo rogatório de mandato.

Para líder do DEM, bloco se tornaria "Mercochávez"

Mas esses argumentos não terão qualquer efeito no Senado, alvo de críticas do venezuelano. É o que prometeu o líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio (AM):

- Vai ser difícil (o protocolo) passar até nas comissões. No plenário, então, a matéria poderá sem ser votada.

Já o líder do DEM no Senado, Agripino Maia, fez um trocadilho:

- O Mercosul com Chávez será um Mercochávez.