Título: Greve de transportes na França perde força
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 23/11/2007, O Mundo, p. 39

Empresas sinalizam rendimento maior e maioria dos trabalhadores decide suspender paralisação no setor.

PARIS. A greve nos transportes, que nos últimos nove dias afetou o dia-a-dia na França, perdeu o fôlego. Seu fim é uma questão de tempo. E pouco tempo. Ontem, a maioria esmagadora dos grevistas que protestam contra a reforma de suas aposentadorias, em 42 das 45 assembléias sindicais realizadas no país, votou pela volta ao trabalho, diante do avanços nas negociações com empresas e governo. A previsão é de tráfego quase normal neste fim de semana.

O presidente Nicolas Sarkozy parece ter ganho a queda-de-braço, por agora. O governo vai acabar, como quer o presidente, com os regimes especiais de aposentadorias, que permitem hoje que uma minoria de trabalhadores nos transportes e no setor energético se aposente mais cedo. Em troca, empresas como a SNCF (trens) estão oferecendo incorporar nas aposentadorias as vantagens que seus funcionários recebem por fora do salário de base. Isto é: uma aposentadoria mais alta. É só o início da negociação, que continua na semana que vem.

Sarkozy enfrenta agora outro desafio. Funcionários públicos estão cobrando as medidas que o presidente prometeu anunciar ¿nos próximos dias¿ para melhorar o poder aquisitivo da categoria. A França é o país do funcionalismo público: há 5,2 milhões e quando saem nas ruas em protesto, o estrago é grande. Se nada acontecer, os sindicatos, que mobilizaram milhares de servidores numa greve de 24 horas na terça-feira, ameaçam nova paralisação e protestos de rua.

Mas Sarkozy, eleito com o slogan da ¿ruptura¿, prometendo reformar o país, respondeu ontem mesmo à nova ameaça. Só irá discutir as iniciativas que prometeu para enfrentar questões de poder de compra, crescimento e emprego, quando a greve nos transportes acabar completamente. Isto é: quando o tráfego dos trens, ônibus e metrôs voltar ao normal. O porta-voz do presidente, David Martinon, confirmou, entretanto, que o governo está trabalhando para anunciar um pacote de medidas:

¿ O presidente da República vai esperar que a situação

(nos transportes) se normalize para os usuários antes de se exprimir. Ele apresentará todas as propostas rapidamente. Estamos trabalhando nisso ¿ disse Martinon.

A queda no poder de compra tem sido uma das principais queixas dos franceses em geral, e não apenas dos funcionários públicos. O governo, de um lado, quer enxugar a máquina. Os sindicatos querem aumento salarial ou outras medidas compensatórias e reivindicam uma primeira rodada de negociações com o governo antes de 30 de novembro. Jean-Claude Mailly, secretário-geral da Força Operária, disse que se nada for anunciado logo, poderá haver uma mobilização unindo os dois: funcionários públicos e privados, já que, segundo ele, o problema está afetando todos.

Poder de compra do funcionalismo diminuiu

Segundo os sindicatos, os funcionários públicos perderam 6% a 7% de seu poder de compra desde 2000. E os mais afetados são os que estão no nível mais baixo da pirâmide do funcionalismo público: eles ganham menos promoções e têm menos vantagens ao longo da carreira do que os altos funcionários.

O governo contesta, em parte. O ministro do Orçamento e das Contas Públicas, afirmou esta semana que funcionários ¿não ganham muito bem¿. Mas ele diz que o salário médio tem aumentado a um ritmo de 3.5% por ano. De acordo com seus cálculos, o poder de compra dos funcionários aumentou em 2007.