Título: Secretário de Finanças de Pimentel já foi denunciado pelo MP de Minas
Autor: Lopes, Rodrigo
Fonte: O Globo, 24/11/2007, O País, p. 4

OS 15 DO ESQUEMA MINEIRO: Na mesma denúncia estão Valério e Clésio.

Beltrão é suspeito de participar de pagamento fraudulento ao extinto Credireal.

BELO HORIZONTE. Denunciado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, por envolvimento no valerioduto tucano, o secretário de Finanças de Belo Horizonte, José Afonso Bicalho Beltrão, já é conhecido do Ministério Público de Minas Gerais. O promotor Leonardo Barbabela propôs ação de reparação de danos ao patrimônio público contra Beltrão, o ex-vice-governador de Minas Clésio Andrade e o publicitário Marcos Valério, por participação num pagamento supostamente fraudulento ao extinto Banco Credireal. Clésio e Valério também estão entre os denunciados por envolvimento no valerioduto tucano.

Beltrão, Clésio e Valério são acusados de usar uma propriedade rural para maquiar um empréstimo que teriam contraído no Credireal, provocando prejuízo de mais de R$2 milhões aos cofres públicos mineiros. Beltrão foi o último presidente do Credireal e do Bemge, bancos estatais privatizados em 1997, na gestão do governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

Valor de fazenda usada para pagar débito era bem menor

O secretário de Finanças de Belo Horizonte assumiu o cargo há cerca de dois anos, no lugar de Júlio Pires, remanejado para a Secretaria de Planejamento. Apesar de integrar uma lista de 15 pessoas acusadas de desviar 3,5 milhões para financiar a campanha de reeleição de Azeredo ao governo de Minas - segundo a denúncia do procurador Antonio Fernando -, Beltrão será mantido à frente da secretaria, que gerencia mais de R$5 bilhões por ano, segundo o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT).

Segundo a denúncia do promotor do Ministério Público de Minas, Clésio Andrade - que hoje preside a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) - era um dos donos da agência de publicidade SMP&B. Ele e seus sócios na época, incluindo Marcos Valério, quitaram uma dívida de R$1,8 milhão da agência com o Credireal, na época presidido por Beltrão. O débito foi pago com uma fazenda avaliada em R$2,4 milhões, mas o valor real, segundo laudos posteriores, era de, no máximo, R$340 mil.

Os donos da SMP&B contraíram o empréstimo no Credireal em junho de 1996. Dois meses depois, os diretores da agência propuseram a entrega da fazenda ao Credireal. A proposta foi aprovada pelo banco em outubro daquele ano. "Os denunciados se aproveitaram da iminente privatização do Credireal para camuflar a transação fraudulenta e lesar os cofres públicos. Eles sabiam que o banco seria vendido e não teria como inspecionar a dívida", diz o promotor.

Fernando Pimentel diz que não fará prejulgamento

Entre as provas apresentadas pelo Ministério Público, está a certidão de registro da Fazenda Santa Rosa, em Pompéu, a 160 quilômetros de Belo Horizonte. A certidão mostra que a propriedade foi vendida para família de Clésio Andrade por R$140 mil, menos de um ano antes de ser entregue ao Credireal. O processo tramita na 1ª Vara da Fazenda de Belo Horizonte.

Fernando Pimentel vai manter José Afonso no cargo e cobrou cautela da imprensa. Ele disse que evita fazer prejulgamentos e espera que a imprensa também haja dessa forma.

(*) Especial para O GLOBO

COLABOROU: Sueli Cotta