Título: Tenho amigos na oposição, diz novo ministro de Lula
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 24/11/2007, O País, p. 10

Para aprovar CPMF, Múcio retomará diálogo com PSDB.

Em seu primeiro dia como articulador político do governo, o deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE) não saiu do telefone, conversando com senadores da base e da oposição. O novo ministro das Relações Institucionais elegeu como prioridade os aliados ressentidos e a retomada do diálogo com o PSDB, no esforço para aprovar a CPMF. Ele disse ontem que sua passagem por DEM e PSDB ajuda nas negociações. José Múcio conversou com o presidente do PTB, Roberto Jefferson, e diz que seu partido não fechará questão contra a CPMF.

Cristiane Jungblut

Como é assumir a articulação política com um calendário tão apertado para a aprovação da CPMF?

JOSÉ MÚCIO: O desafio é muito grande. Vamos cumprir os compromissos já assumidos, conversar sobre as demandas do Executivo junto ao Legislativo e do Legislativo junto ao Executivo, o que é natural.

Os senadores sempre resistiram à ação dos articuladores políticos que são da Câmara...

MÚCIO: As duas Casas se completam. A partir de hoje, vou procurá-los na condição de ministro. Todos são necessários, é como uma orquestra.

O que achou da saída do ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, acusado pelo Ministério Público pelo envolvimento no mensalão mineiro?

MÚCIO Walfrido tomou uma atitude corretíssima. Lamento, porque ele, com espírito público que tem, com disposição de trabalhar, faz falta a qualquer governo. Mas teve um gesto de grandeza, para não contaminar o governo, e vai sair muito bem disso. A sociedade vai ter, num prazo muito curto, consciência de sua inocência.

Não prejudica o governo ter mais um ministro denunciado pelo Ministério Público?

MÚCIO: Tudo vai ser esclarecido.

O senhor disse que quer ser um deputado no Executivo. Nessa trajetória, o senhor foi presidente do PFL, hoje DEM, passou pelo PSDB e hoje está no governo do PT. Essa experiência diversa ajuda ou atrapalha?

MÚCIO: Deputado é o que eu sou. Ministro é o que estou. (Essa experiência) só ajuda, exatamente isso é o que tenho de melhor na Casa. Tenho amigos na oposição. Muitas vezes encaminhei votações pelo governo no microfone da oposição. Um dos telefonemas mais afetuosos que recebi foi do líder do DEM na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS), que é um radical adversário do governo, mas um fraterno amigo. Sou amigo de Antonio Pannunzio (líder do PSDB na Câmara), do Ronaldo Caiado (DEM-GO), vim para a política pelas mãos de Roberto Magalhães (DEM-PE), ardoroso adversário do governo... E exatamente por não destruir as pontes é que a gente pode reencontrar os caminhos.

Significa que o senhor acredita em conquistar votos no DEM a favor da CPMF?

MÚCIO: O debate não pode ter a acidez que afasta as pessoas. Hoje (ontem), liguei para o Agripino Maia (líder do DEM no Senado), para o Sérgio Guerra (presidente do PSDB), porque são velhos companheiros de política. Estou atrás de conversar.

Como foi a conversa com o presidente do PTB, Roberto Jefferson (que denunciou a existência do mensalão petista), com quem o senhor teve um estremecimento?

MÚCIO: Pesou a responsabilidade, e voltamos a ter boas relações.

A bancada do PTB do Senado saiu do bloco governista. Há risco de a executiva do PTB fechar questão contra a CPMF no dia 28?

MÚCIO: O presidente (Roberto Jefferson) já disse que não vai fechar questão. Na Câmara, o PTB fazia parte do bloco e deixou de fazer, mas não deixou de apoiar o governo.

Espera contar com votos de alguns senadores do PSDB na votação da CPMF?

MÚCIO: O país espera contar. O que vamos tentar é dissociar o fato de ser governo ou oposição da questão da CPMF. A principal ferramenta da política é o diálogo. Fracasso absoluto é quando se encerram as conversas. Enquanto as portas estiverem abertas...