Título: Novo vestibular já é alterado
Autor: Oliveto, Paloma
Fonte: Correio Braziliense, 18/04/2009, Brasil, p. 15

Pouco depois de ser anunciado, projeto que previa o Enem como prova unificada de acesso às universidades federais perde força. Ministério anuncia quatro modelos alternativos, mas nega desfiguração da ideia original

Ministro Fernando Haddad no encontro com reitores: mudança impositiva, via Congresso, seria ¿autoritária e arbitrária¿ O projeto de unificação do exame de acesso às universidades federais perdeu força ontem, depois da primeira reunião do comitê de reformulação do processo seletivo. Pressionado pelos reitores, o Ministério da Educação teve de alterar a ideia original, de aplicar uma prova nos moldes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para os candidatos, e anunciou quatro modelos que poderão ser adotados pelas instituições.

Pela proposta, as universidades que aderirem ao novo Enem terão mais liberdade de escolher como utilizar a prova. A primeira opção é adotá-la como exame de ingresso único, conforme o projeto inicial previa. Mas, se a instituição quiser, poderá combiná-lo com o vestibular tradicional, fazendo duas fases de seleção; usar a nota da prova apenas para as vagas ociosas ou somente para determinados cursos.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, não admitiu que a mudança desfigura o projeto original apresentado à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Ele preferiu afirmar que a intenção do MEC foi tornar mais flexível as possibilidades de participação das universidades. ¿Há duas maneiras de modificar o vestibular. Uma é impositiva, por ato do Congresso, mas não entendemos que esse é o melhor caminho. Seria autoritário e arbitrário¿, disse.

Segundo Haddad, das quatro opções oferecidas aos reitores, a original é a mais ¿virtuosa¿. Para o ministro, entretanto, algumas instituições precisam passar por um ¿processo de amadurecimento¿ até aderirem integralmente à proposta. ¿Tem reitores preocupados com a tradição do vestibular e eles querem mais segurança para adotar o novo modelo. Mas qualquer forma de participação é melhor do que nenhuma¿, conformou-se. O ministro ainda afirmou que as adaptações foram necessárias para ¿afastar os riscos de que um projeto que foi bem aceito pela sociedade tenha um caminho tortuoso¿.

¿Melhorias¿ O presidente da Andifes e reitor da Federal de Pernambuco, Amaro Lins, saiu satisfeito da reunião. ¿Foi excelente. Estamos aprofundando as discussões e partindo para melhorias. Nessa semana, as universidades intensificaram o debate sobre o novo exame. Os novos modelos de participação surgiram nas universidades, por isso saio do encontro extremamente animado¿, disse. Ele informou que em 27 e 28 de abril haverá um seminário no qual os reitores deverão discutir como implementar o novo Enem. Segundo Lins, ainda é preciso aperfeiçoar mais o projeto que, por hora, conta com o apoio declarado da Federal de Pelotas (RS) e do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cefet-RJ).

O ministro concorda que ainda há muitas dúvidas sobre a proposta entre os reitores, mas descartou a possibilidade de atraso no planejamento do MEC ¿ a aplicação da nova prova está prevista para outubro deste ano. De acordo com Haddad, nas próximas semanas, o comitê vai recolher todos os questionamentos das instituições sobre o novo Enem para que o ministério possa saná-los.

-------------------------------------------------------------------------------- Mudanças

Única forma de ingresso: ao optar por essa modalidade, a instituição seleciona os estudantes somente pela nota obtida pela prova

Duas fases: a nota do novo Enem é contada na primeira fase da seleção. Caso obtenha a pontuação necessária, o estudante faz uma nova prova, preparada pela própria instituição

Vagas ociosas: a nota do novo Enem vale apenas para vagas que sobram nas instituições

Cursos: a instituição seleciona cursos ou percentual de vagas que serão preenchidos com as notas do novo Enem. Para os demais, vale a forma tradicional de ingresso