Título: Venezuela se oferece para receber reféns das Farc
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Fonte: O Globo, 24/11/2007, O Mundo, p. 51

Chávez diz que fronteiras com a Colômbia estão abertas caso guerrilha decida libertá-los.

CARACAS e BOGOTÁ. Mesmo após ter sido dispensado do papel de mediador pelo presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem que está disposto a receber os 45 reféns caso as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) decidirem libertá-los. Chávez disse que ¿os mais de mil quilômetros de fronteira¿ entre os dois países ¿estão abertos¿.

¿ Marulanda (líder das Farc), se você decidir liberar esse grupo, apesar do que aconteceu, eu os receberei aqui ¿ declarou Chávez ontem, em Caracas. ¿ Sinto que tenho um compromisso humanitário. Assim, colocamos a Venezuela às ordens, caso o governo da Colômbia acredite que podemos ajudar a aliviar a dor do povo colombiano.

Na quinta-feira, o governo venezuelano lamentou a decisão de Uribe, que encerrara repentinamente a participação de Chávez e da senadora colombiana Piedad Córdoba num acordo para a troca de 45 reféns por 500 guerrilheiros presos, entre eles a senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt. O motivo foi um telefonema de Chávez, por meio de Piedad, ao comandante do Exército colombiano.

Uribe: Chávez ou Sarkozy poderiam receber reféns

Bogotá afirma que não pretende usar mais mediadores internacionais. Mas ontem Uribe deixou aberta a possibilidade de Chávez ou do presidente da França, Nicolas Sarkozy, receberem os reféns caso as Farc decidam libertá-los unilateralmente.

¿ O governo continuará buscando por todos os meios a libertação dos seqüestrados ¿ disse Uribe. ¿ Se os terroristas libertarem os reféns ao presidente Chávez, ou ao presidente Sarkozy, ou à Cruz Vermelha, o governo da Colômbia dá as boas-vindas a essa libertação.

Uribe, no entanto, fez uma advertência, dizendo que as Farc têm respondido com ¿mentiras e assassinatos¿ e que têm ¿abusado da boa fé internacional:

¿ Cuidado: estes terroristas têm sabido converter em idiotas úteis todos aqueles que lhes estenderam a mão.

A guerrilha exige que Uribe desmilitarize dois municípios para negociar e parece ter sido este o ponto nevrálgico da crise com Chávez. Segundo o jornal ¿El Tiempo¿, o presidente venezuelano buscava o apoio dos generais colombianos para uma retirada de tropas. ¿Hugo, não posso permitir que se fale de desmilitarização. Meus generais ficarão desmoralizados¿, teria afirmado Uribe, segundo fontes. ¿Então deixe que eu falo com os teus generais¿, teria respondido Chávez. Uribe, no entanto, descartou a possibilidade, mas mesmo assim Chávez ligou para o general Mario Montoya, levando Bogotá a cancelar a mediação.

Uribe agora se encontra sob pressão das famílias de reféns. A mãe de Ingrid, Yolanda Pulecio, pediu que Uribe devolva a mediação ¿às mãos seguras¿ de Chávez e Sarkozy. O presidente francês, por sua vez, enviou uma carta a Uribe pedindo que busque alternativas para o caso. Em Londres, o ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, disse que se houver vontade por parte das Farc a troca de reféns por prisioneiros poderia ser acertada rapidamente, ¿inclusive por telefone¿.