Título: A Dilma é minha sombra na administração
Autor: Fadul, Sergio; Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 25/11/2007, O País, p. 8

Presidente diz que só trata de sucessão em 2009, nega disputa de terceiro mandato e defende candidato único.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva jura que não pensa em sucessão, mas já traçou seu cronograma político-eleitoral até 2010. Ao contrário do que falou aos aliados, disse que não subirá em palanque ano que vem, e que tratará de sua sucessão a partir de 2009. Ele insiste em candidatura única da base, mas evita citar nomes, com cuidado maior com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), apontada por governistas e oposicionistas como aposta para 2010.

- Ela é minha sombra - diz Lula sobre Dilma.

Na esperança de afastar especulações, afirma que não incentivará mudanças para conquistar o direito de disputar o terceiro mandato em 2010, mesmo que todos os fatores conspirem a seu favor.

Sergio Fadul, Diana Fernandes, Luiza Damé e Luiz Antônio Novaes

O senhor tem desautorizado que falem em terceiro mandato. Diante da possibilidade de que a oposição fique dividida, o PT sem candidato natural e o senhor com popularidade alta, resiste a um terceiro mandato?

LULA: Resisto. Resisto. Eu tinha feito promessa de não discutir o assunto. Fiz uma profissão de fé de dizer que não toco mais nesse assunto. Ninguém me ouviu falar em terceiro mandato. Todo mundo sabe que eu era contra a reeleição. Só não mando um projeto acabando com a reeleição porque fui reeleito. Mas todo mundo sabe que era contra reeleição, que prefiro mandato de cinco anos, sem reeleição.

Por quê?

LULA: Acredito na alternância de poder. Não sei de onde surgiu essa história (terceiro mandato). A história do plebiscito não aconteceu no meu governo, não. Aconteceu em 2001. É só irem ao Congresso, vão perceber que a história do plebiscito não é minha. Não quero que publiquem isto, é apenas informação: quem defendeu terceiro mandato foi Fernando Henrique Cardoso, que defendeu o terceiro mandato do Fujimori (ex-presidente do Peru). Ou vocês esquecem que publicaram isso? Então, eu sou contra, como filosofia.

Há amigos seus a favor do terceiro mandato.

LULA: Não, não são a favor de terceiro mandato. O que o Devanir (deputado Devanir Ribeiro, do PT paulista) propôs, querido, era o direito de o presidente da República convocar plebiscito. Não falou em terceiro mandato.

Mas o que se diz é que por trás do plebiscito tem a idéia do terceiro mandato.

LULA: Membros da oposição que me conhecem sabem que não exercito brincadeira com democracia. A democracia precisa se transformar num valor para a sociedade brasileira. Somos um país em formação. Alternância de poder é muito bom, porque o povo tem a cada eleição a chance de escolher o melhor. Pode dar certo ou não, mas tem a chance. Quer coisa mais extraordinária do que esse exercício da democracia? Não quero mais falar nesse assunto.

Com o PT sem candidato, teria dificuldade em apoiar candidato de outro partido? Enfrentaria o PT para apoiar Ciro Gomes? Além de Dilma e Patrus, que nomes teria na equipe em condições de ser presidenciável?

LULA: A sorte de eu ter participado de muitas eleições é que essa pergunta me foi feita muitas vezes. Deixa eu dizer o que o presidente da República pensa: só irei pensar na minha sucessão a partir de 2009. Quero cuidar de ver este país fazer as eleições municipais com tranqüilidade - é importante ter claro que o presidente não participará das eleições municipais...

Não vai subir em palanque de ninguém?

Lula: Não vou subir em palanque. Não vou subir. A partir das eleições municipais, quando entrar 2009 eu começarei a me preocupar com a sucessão. E a oposição também. Por enquanto só quem tem nome, ou nomes, é o PSDB. Pois bem. O que posso dizer é que a base aliada, essa é a minha convicção, terá que ter uma candidatura única.

O senhor acha isso possível no primeiro turno?

LULA: Acho possível construir isso no primeiro turno. Acho possível que cada partido queira ter candidato. Acho legítimo. Não é o que gostaria. Não estou discutindo candidaturas, muito menos nomes. Cada nome que eu citar vai ficar cravado que estou pensando naquele nome.

Não está pensando em um partido, ao falar em base...

LULA: Isso, não estou pensando em um partido. É a base.

Pode ser do PSB, do PMDB...

LULA: Pode ser de outro partido. Não tem que ser do PT. O PT pode querer ter candidato, é legítimo. O PCdoB pode querer, o PMDB pode querer. O PMDB tem ministros, senadores, a maioria dos governos, um estado como o Rio de Janeiro. Acho legítimo. Da minha parte não terá briga. Vou tentar convencer a base de que o prudente é que a gente tente candidatura única. Isso vou discutir mais para frente.

A ministra Dilma Rousseff é apontada como a presidenciável do momento.

LULA: Eu nunca apontei. Nunca nem perguntei.

Mas é apontada por aliados, por petistas. O que acha disso?

LULA: Não tem, não tem. Como sou favorável à liberdade de expressão, cada um fala o que quer e responde pelo que falar. Posso dizer que não tenho nomes, nem interno nem externo.

Pela quinta vez, o senhor perde seu articulador político. É uma área problemática? (pergunta enviada por e-mail, após a queda do ministro)

LULA: Não é problemática. É importante e, por ser importante, é complicada, porque tem relação política. É importante saber por que trocamos cinco vezes. Quando começamos, a articulação política estava na Casa Civil, com o Zé Dirceu. Resolvi separar e coloquei o Aldo Rebelo para ser coordenador político. O Aldo saiu para voltar a ser deputado e foi eleito presidente da Câmara. Veio o Jaques Wagner, que saiu para ser governador da Bahia. Veio o Tarso Genro, que saiu para ser ministro da Justiça. Veio o Walfrido (dos Mares Guia), que saiu por causa desse problema das eleições de 98. E agora tem o Zé Múcio (Monteiro). Esse cargo de coordenação é um dos mais importantes do governo, é sensível porque você tem de ter relações com Câmara e Senado, partidos políticos, prefeitos e governadores. Tem uma diversidade política extraordinária. Lamento profundamente o que aconteceu com o Walfrido, reconheço a indignação do Walfrido, porque ser indiciado por um processo que já tem nove anos sem que ele tenha sido ouvido em algum momento e, mesmo quando ele prestou depoimento, não foi perguntado a ele nada sobre o assunto, ou seja, foi perguntado sobre outro assunto, é motivo de ficar indignado mesmo. Espero que se faça justiça, que esse problema se resolva logo. O governo está extremamente bem representado com a figura do deputado José Múcio - é um dos mais brilhantes do Congresso, foi líder nesses últimos tempos, com atuação impecável, e certamente manterá essa atuação como coordenador político. Acredito.