Título: Vai movimentar toda a economia
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 25/11/2007, Economia, p. 33

Ministro fala em R$100 bilhões em uma década e critica empresas por desinteresse em fabricar conversor.

BRASÍLIA. Quando começarem as transmissões da TV aberta em padrão digital, no próximo domingo, em cidades da Região Metropolitana de São Paulo, será dado o pontapé inicial em um mercado que poderá movimentar cem bilhões de reais em uma década. A previsão é do ministro das Comunicações, Hélio Costa. Em entrevista ao GLOBO, Costa criticou as indústrias por não se engajarem nesse projeto, pois estariam mais interessadas em fabricar televisores do que conversores. E se prepara para outra revolução: a implantação da rádio digital. O ministro revelou que o padrão americano não é mais o preferido do governo, e que disputará o mercado nacional quem se encaixar nos parâmetros exigidos pelo país.

Mônica Tavares

Qual a importância da TV digital para o país e o consumidor?

HÉLIO COSTA: Para o país, é um grande avanço, entramos no primeiro mundo da comunicação eletrônica. Temos um modelo de TV digital avançado, baseado no que há de melhor nos três padrões internacionais, e que vai permitir uma boa imagem, com a democratização dos canais, a melhor utilização dos espaços de transmissão. Do ponto de vista de avanço tecnológico, o Brasil dá um salto.

E economicamente?

COSTA: Começamos a mexer com um setor que vai movimentar toda a economia nacional. Só a produção dos conversores pode movimentar R$9 bilhões em três anos. Os televisores que começam a ser preparados para a TV digital e para a alta definição vão movimentar bilhões de reais nos próximos dez anos. Temos um cálculo não muito científico de que podemos movimentar cerca de R$100 bilhões.

Os conversores estão gerando controvérsia. O senhor falou em R$200, mas os preços estão muito acima.

COSTA: Estamos inaugurando a TV digital em São Paulo. Temos o Brasil inteiro. Como aconteceu com o DVD player, que chegou ao Brasil a US$2 mil e hoje custa R$70, com o celular, que custava US$2 mil e hoje custa R$100, o conversor vai cair de preço, à medida que tiver escala. Identifico isso como uma tentativa de impedir o sucesso da TV digital. Porque a caixinha conversora do sistema japonês, no Japão, custa US$64. Nos EUA, em torno de US$60, e na Europa, US$50. Como você vai pegar uma caixa e vai botá-la custando R$800?

As empresas reclamam que o governo não reduziu impostos.

COSTA: Não é verdade. As empresas do Pólo de Manaus têm todo o benefício da Lei de Informática, com 85% de reduções fiscais, e, evidentemente, desoneração do ISS e do ICMS no Amazonas. Não é por essa razão que elas estão fazendo isso. As empresas que estão lá, quem são? Samsung, Sony, Philips, as empresas européias. Elas não têm interesse em fazer caixinhas, mas em fazer LCD, TV de 46 polegadas, de 32 polegadas.

O presidente já decidiu a questão do bloqueio de gravações?

COSTA: Essa questão toda está para ser decidida.

Antes da entrada da TV digital em São Paulo?

COSTA: Não sei, mas não é absolutamente importante que seja até a entrada, porque é uma questão de software, e você pode estabelecer isso a qualquer momento. O que se propõe é que as imagens de alta definição, ou seja, as imagens que serão geradas no horário nobre da TV digital venham com o direito de o telespectador gravar na sua casa (fica armazenado na TV), para seu consumo próprio, da sua família. Mas não dá o direito, nem a ele nem a ninguém, de reproduzir a gravação que fez (gravar em DVD).

Mas isso não é tirar meu direito de gravar na minha TV?

COSTA: Ninguém está querendo bloquear o direito de ninguém. A gente quer evitar a pirataria. O que se protege é o direito autoral. Se você permite a transmissão livre, na TV aberta, de um material em alta definição, está dando acesso à cópia original, porque uma cópia em alta definição é como se fosse a cópia original digital. Posso reproduzir aquilo quantas vezes quiser, com absoluta perfeição, como se fosse o original. É claro que já fomos advertidos por produtores americanos e europeus de que, liberando totalmente o processo de gravação da alta definição no Brasil, vamos ter dificuldade de contratar alguns programas. A programação pode sofrer um impacto considerável por causa disso.

Após a TV digital, quando chegará a rádio digital?

COSTA: Segundo o presidente da Abert (Daniel Slaviero) informou, os resultados oficiais (dos testes) devem estar prontos até o fim do mês. No começo de dezembro, a gente já deve ter notícias mais concretas. O ideal é adotar o mesmo sistema de escolha da TV digital.

Mas não havia preferência pelo Iboc (americano)?

COSTA: Não vamos adotar um padrão, mas especificar o que precisamos. Aquele que se encaixar poderá vir e disputar o mercado conosco. Foi assim com a TV: o presidente estabeleceu em decreto parâmetros, tinha que ser livre e gratuita. Precisamos de um modelo de rádio que receba FM e AM no mesmo aparelho, e que esse aparelho contemple analógico e digital. Contempla? Então pode ser japonês, português, o que quiser.