Título: Não há rejeição ligada à origem do apresentador. A porta está aberta
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 25/11/2007, O Mundo, p. 39

Primeiro negro a chefiar telejornal diz que há obstáculos, entretanto.

PARIS. Harry Roselmack, 32 anos, é bonito, alto e tem a voz que o jornal de maior audiência da França, o da TF1, exige. Mas este francês da Martinica tem mais que isso: é bom jornalista e é negro. O primeiro negro a ser nomeado apresentador de jornal de uma grande rede de TV. Ele aplaude a abertura para maior diversidade na mídia e no governo, defende a discriminação positiva, mas diz que a França está atrasada neste campo.

Sua contratação é simbólica. A França está mudando?

HARRY ROSELMACK: É cedo para dizer que as mentalidades mudaram. Mas constato que algo mudou, por várias razões. Havia uma reticência de alguns em situação de poder nas mídias, que temiam que certos perfis afastassem telespectadores. E o que se verificou com Audrey Pulvar, apresentadora da France 3 (uma negra da Martinica) e com minha chegada à TF1 é que, no fim das contas, não havia rejeição ligada à origem do apresentador. A porta está aberta.

É mais difícil ser jornalista na França quando se é negro?

HARRY ROSELMACK: Não é difícil ser jornalista, felizmente. Mas até há dois anos era raro exercer a profissão numa grande rede nacional. Muitos de nós trabalhamos para mídias comunitárias. Há sete ou oito anos, era muito mais difícil para um estudante negro de jornalismo, originário das Antilhas ou da África, trabalhar na TF1 ou na France2.

Quando você anda na rua, qual a reação das pessoas vindas da imigração?

ROSELMACK: Freqüentemente as pessoas exprimem seu orgulho de ver onde cheguei e me dizem: Bravo! Acho que há gente que se sentiu mais tocado do que eu, que não vi minha contratação como a do ¿primeiro negro apresentador da TF1¿. Me senti mais como um jornalista que tem a sorte de fazer bem o trabalho na maior rede de TV da França e da Europa.

O fato de você ser negro pesou na escolha de TF1?

ROSELMACK: A primeira preocupação da TF1 foi achar alguém que pudesse fazer o trabalho corretamente. Você não põe para apresentar o jornal de maior audiência alguém que não fará o trabalho. Depois, o fato de ser negro, diante da situação política e social, jogou a meu favor.

Qual seria sua reação se fizesse uma entrevista com Jean-Marie Le Pen (extremista de direita, anti-imigração)?

ROSELMACK: Quando faço uma entrevista, sou um jornalista. Não sou negro ou branco. Eu iria me colocar no lugar dos telespectadores, e pensar, que perguntas eu faço a este personagem? Diante de Jean-Marie Le Pen eu perguntaria o que muitos franceses, negros ou brancos, perguntariam. (D.B.)