Título: Há risco de debate sobre terceiro mandato prosperar
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 26/11/2007, O País, p. 4

BRASÍLIA. O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), adverte que o enfraquecimento das instituições, especialmente o Legislativo, pode levar uma parcela da sociedade a defender o terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Afirma que pessoalmente é contra.

Adriana Vasconcelos

Como o senhor vê a articulação de setores do PT para garantir um terceiro mandato para o presidente Lula?

TIÃO VIANA: Há risco disso prosperar se nós estivermos mais fracos como instituição, porque o presidente está consolidado. Ele é uma figura além do tempo da atual política em crise. A sociedade compreende seu governo e sente as conseqüências positivas das diretrizes de sua administração. Os partidos de oposição, que deveriam disputar com grandeza a sucessão de Lula, têm atuado para enfraquecer mais ainda as instituições, especialmente o Legislativo. Isso pode permitir que pessoas, tentadas pela vaidade, queiram levar a sociedade ao debate pelo terceiro mandato. O presidente nega esta intenção. Eu tenho uma tese clara: Um, dois, três, Lula outra vez! Mas em 2014!

O senhor se irrita com especulações de que estaria manobrando para ficar no cargo?

TIÃO: Já deixei claro que não há hipótese de eu disputar a presidência do Senado. Entendo que essa é uma prerrogativa do PMDB. Mas vejo setores do próprio PMDB, infelizmente, dando a entender, como quem vê fantasma, que estou manobrando para permanecer no cargo. Não acho que isso faça bem a uma relação de companheiros, de base aliada, e achei que tinha de colocar um ponto final nisso. E o ponto final foi o popularmente chamado... Dane-se!

Como o senhor vê os rumores de que estaria sendo articulado um acordão para se absolver o senador Renan Calheiros em troca da aprovação da CPMF?

TIÃO: Acho que essa manifestação existe, mas fabricada pela oposição, que quer embolar o caso Renan Calheiros com a CPMF. Acho um erro grave de condução e visão política. O caso Renan deveria ser compartimentado como um julgamento ético que lida com a imagem da instituição perante o Brasil, e não como uma disputa entre governo e oposição. Da parte do governo não há qualquer disposição de misturar esses dois temas. Seria um erro primário.

Uma nova absolvição do senador Renan não arranharia a imagem da instituição?

TIÃO: Temos de agir com a nossa consciência, nossos deveres de valores de justiça e responsabilidade política. Acho que o caso Renan deve estar envolto em provas. Temos de ter zelo para condenar ou absolver quem tem a mais legítima função na vida pública, aquele que foi escolhido pelo voto.