Título: Oposição critica Lula por defender mais gastos
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 26/11/2007, O País, p. 4

DEM e PSDB dizem que não estão convencidos sobre resistência do presidente à tentação do terceiro mandato.

BRASÍLIA. A oposição reagiu ontem às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista exclusiva ao GLOBO, de que não se consegue governar o país sem aumentar os gastos públicos. Parlamentares do DEM e do PSDB acusaram o governo Lula de gastar mal, aplicando recursos com o inchaço e aparelhamento da máquina pública e não na melhoria de serviços como saúde. As declarações sobre dificuldade de reduzir gastos também não agradaram aos aliados, que temem um impacto negativo nas negociações para atrair votos tucanos para a renovação da CPMF.

Tucanos e democratas disseram ainda que não ficaram convencidos de que Lula não poderá ceder, no futuro, à proposta que viabiliza um terceiro mandato, apesar de ele ter negado essa intenção e avisado que irá resistir a essas investidas dos aliados.

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), lembrou que a criação de um limite de gastos correntes da União foi uma das exigências do partido na negociação da CPMF, ponto que acabou não sendo aceito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A área econômica tinha admitido, inicialmente, criar um limite para a elevação das despesas com pessoal em 2,5% ao ano mais a variação da inflação no período. Mas, diante do recuo do PSDB, o governo desistiu de estender esse freio a todas as despesas.

- Esse governo não tem a menor noção de gestão pública. E gasta mal, o que é pior. Essa é uma das razões que nos levam a votar contra a CPMF. Estão aparelhando o Estado, e o que é investido na atividade-fim é muito pouco - disse Pannunzio.

O líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), da base governista, acha que Lula explicou mal e deu declarações vagas e genéricas sobre a necessidade de aparelhar áreas vulneráveis, como a saúde. Isso dificultaria a negociação da CPMF no Senado:

- Atrapalha. Consolida a idéia de que os gastos correntes estão sem controle, que os cargos comissionados têm crescido no governo. Isso no Brasil tem que ter um limite, está sem controle, não sei se o limite será 1,5% acima da inflação ou 2,5%. Mas é fundamental ter um controle sobre isso.

Pannunzio citou como exemplo a lenta execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Só teriam sido liberados 10,7% do total no orçamento previsto para 2007:

- É aterrador como tem havido o crescimento da arrecadação e o governo não tem demonstrado eficiência para investir esses bilhões extras.

Maia diz que recursos servem para inchar máquina

Na mesma linha, o presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia (RJ), disse que os gastos do governo têm sido para aumentar o tamanho da máquina pública e empregar funcionários do PT ou de partidos da base aliada. Ele argumentou que o DEM não defende a diminuição do Estado, mas quer a aplicação dos recursos em atividades fins e não administrativas.

- A gente quer saber o objetivo desses gastos. Se o governo do Brasil estiver gastando em serviços de fato prestados à sociedade, ninguém é contra. Mas esse crescimento dos gastos tem sido basicamente na estruturação da máquina petista dentro da máquina do Estado. É importante para o PT ocupar a máquina com seus aliados - disse Maia, para quem o governo não assume que há falhas na execução do Bolsa Família, por exemplo, e ainda poucos investimentos na área de segurança pública.

O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), disse que o governo gasta mal:

- Se a infra-estrutura estivesse em ordem, o presidente teria toda a razão em falar o que disse. O problema é que está gastando mal e insiste nisso. E vai continuar elevando imposto.

A oposição também criticou as declarações de Lula sobre a democracia na Venezuela, e ainda em relação às articulações para um terceiro mandato seu, a partir de 2011. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), negou que o ex-presidente Fernando Henrique tenha defendido um terceiro mandato para o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori:

- O presidente Fernando Henrique foi contra um golpe contra o Fujimori. Além disso não ser verdade, o presidente Lula tem que parar de se espelhar no Fernando Henrique. No caso dos gastos, pode se criar uma crise fiscal gravíssima. Ele tem que gastar menos, mas com mais resultados. Não tem que ficar desperdiçando com companheiros, com apadrinhados, com 37 ministérios, com os gastos correntes subindo.

Para Rodrigo Maia, Lula deixou escapar sua posição ao defender o direito de o presidente venezuelano, Hugo Chávez, tentar ficar no poder e de usar o sistema parlamentarista como parâmetro, apesar de no parlamentarismo o primeiro-ministro poder ser afastado a qualquer momento.

- Não tem dúvida: com a CPMF aprovada, virá o terceiro mandato - disse Maia.