Título: Pressão presidencial
Autor: Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 18/04/2009, Economia, p. 18

¿Foi um processo difícil¿, diz um dos ministros mais influentes do governo. Mas a inflexão no superávit primário, com a redução acentuada da meta de economia para o pagamento de juros da dívida, foi adotada pelo governo graças à pressão provocada pela crise mundial. E, sobretudo, à vontade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apoiado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, Lula deixou de lado o hábito de incentivar o contraditório entre seus auxiliares para decidir ¿ depois de seis anos de mandato ¿ a favor dos ¿desenvolvimentistas¿ no embate com os ¿monetaristas¿. O presidente não só arbitrou a disputa como uniu os dois grupos em torno da ideia de que a prioridade, no momento, é estimular a atividade econômica. De olho em 2010.

Reflexo dos novos tempos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, se reuniram com Lula no Centro Cultural Banco do Brasil, na quinta-feira à tarde, numa mesma audiência. E sem troca de farpas antes ou depois do encontro. ¿A crise ajudou a inflexão. Durante anos, disseram que haveria muita reclamação caso houvesse redução do superávit primário. Não houve. O governo avalia de forma positiva a repercussão da medida¿, afirma um ministro. Até o ano passado, o duelo entre Mantega e Meirelles era tratado em tom de brincadeira. ¿É bom porque impede o pensamento único, a falta de debate que imperou na gestão do Fernando Henrique Cardoso quando o José Serra (governador de São Paulo) deixou de fazer contraponto ao Pedro Malan (então ministro da Fazenda)¿, disse o mesmo ministro ao Correio em meados do ano passado.

Naquela época, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescia a cerca de 6%. Surfava a onda positiva da economia mundial, o que dava ao presidente a comodidade de adotar uma postura conservadora. Com a chegada da ¿marolinha¿ ao país, a onda de demissões e o risco de recessão, Lula se viu forçado a assumir o timão e dar uma guinada na condução da política econômica. Implantar a decisão de trilhar um novo caminho não foi fácil. Integrantes da equipe econômica propuseram diferentes propostas de redução de superávit primário. A maior parte delas menos ousada do que a adotada: corte de 3,8% para 2,5% do PIB neste ano. ¿A crise exige uma nova postura¿, declara o ministro.