Título: Lula subirá morro em conflito
Autor: Neto, Lauro; Araújo, Paulo Roberto
Fonte: O Globo, 26/11/2007, Rio, p. 8

Presidente vai lançar sexta-feira obras do PAC no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo.

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva subirá, na próxima sexta-feira, uma favela tomada pela tensão. A visita ao complexo Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, entre Ipanema e Copacabana, vai acontecer exatamente uma semana depois de uma operação da polícia na região, com intensa troca de tiros com traficantes, para tentar prender Rodrigo Carvalho Cruz, o Tico, acusado de ser o responsável pela morte do turista italiano Giorgio Morasse. Como informou no dia 23 a coluna Gente Boa, do GLOBO, o presidente, que ainda não visitou favelas no Rio desde que assumiu o cargo, participará da cerimônia de início das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no morro. Os investimentos do governo federal na comunidade serão um ensaio para a realização do PAC em favelas ainda mais conflagradas, como a Rocinha e os complexos de Manguinhos e do Alemão.

Sexta-feira passada, as ruas Barão da Torre e Teixeira de Mello ¿ por onde a comitiva presidencial pode passar para chegar ao complexo de favelas ¿ tiveram que ser fechadas por dez minutos devido ao tiroteio. O esquema de segurança da visita de Lula será feito pelo Exército.

Área será vistoriada antes da cerimônia

Segundo o vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão, a cerimônia de inauguração das obras será no prédio onde funciona o Projeto Criança Esperança, que tem acessos pela Rua Alberto de Campos e pelo Cantagalo.

¿ Antes da visita, o local será vistoriado pelo que chamamos de precursora (um grupo de especialistas em segurança que analisa a área antes da visita de autoridades). A presidência já manifestou a intenção de ir ao complexo ¿ disse Pezão.

O vice-presidente da Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio, José Nerso, disse que o presidente estará seguro na comunidade:

¿ A segurança do presidente, em sua visita ao Pavão-Pavãozinho, somos nós, moradores.

O governo federal vai destinar R$3,8 bilhões às obras do PAC no estado. Só no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo serão investidos R$35,2 milhões em melhorias, que incluem a construção de um plano inclinado, já apelidado de Elevador Cabral, em homenagem ao governador do Rio, numa alusão ao Elevador Lacerda, de Salvador.

¿ A construção do elevador que ligará o Pavão-Pavãozinho ao alto do Cantagalo é a parte mais significativa da obra, porque permitirá a integração entre as comunidades e com a cidade ¿ disse subsecretário estadual de Urbanismo, Vicente Loureiro.

As obras na comunidade estão dentro do projeto de urbanização de favelas do Grande Rio, com investimento total de R$1,2 bilhão. Outros R$1,1 bilhão serão usados em obras de saneamento na Baixada Fluminense e no Rio. No Arco Rodoviário, que vai ligar o Porto de Sepetiba a Itaboraí, contornando a Baía de Guanabara ao longo de 70,9 quilômetros, serão investidos mais R$802 milhões.

¿ A obra do Pavãozinho, primeira grande intervenção iniciada pelo governador Sérgio Cabral, é o cumprimento da promessa de levar acessibilidade digna às comunidades em locais de difícil acesso ¿ disse Pezão.

Segundo o vice-governador, as obras no complexo já foram licitadas e serão iniciadas imediatamente pela empresa OAS, com prazo de conclusão de dois anos. O projeto inclui a instalação e ampliação das redes de água, esgoto e drenagem; a abertura de dois quilômetros de vias de acesso internas; prédios para moradia de 206 famílias que deixarão áreas de risco; tratamento ambiental das áreas degradadas; construção de creche comunitária; recuperação e criação de espaços de lazer; e criação de programas para gerar empregos e educação sanitária e ambiental.

O secretário estadual do Trabalho, Alcebíades Sabino, disse que as obras vão abrir cerca de 300 vagas para a comunidade do Pavão-Pavãozinho. Segundo Sabino, o governador Sérgio Cabral determinou que os moradores tenham prioridade no processo de admissão. Eles poderão se cadastrar a partir de hoje.

¿ São vagas para servente, pedreiro, carpinteiro e bombeiro hidráulico. Já há gente de empreiteira fazendo canteiro de obras e montando escritórios aqui ¿ conta o presidente da associação de moradores do Pavão-Pavãozinho, Marco Antônio Silva de Carvalho.

Nascido e criado na comunidade, Romário Soares, de 43 anos, foi um dos beneficiados pela geração de empregos por conta das obras. Desempregado há quatro anos e com quatro filhos para criar, ele foi contratado há dois meses.

¿ Estou ajudando a fazer a sondagem do solo onde será construído um dos blocos de apartamentos. São os moradores que vão levantar isso aqui ¿ vibrou Romário.

Mas há quem olhe com desconfiança para a construção de blocos de apartamentos e tema a remoção de casas, que já atingem quatro andares. É o caso de Rubem Roberto, que mora com 15 familiares:

¿ Nossa preocupação é com a retirada das casas. Nem todo morador vai querer trocar quatro andares por um apartamento de quarto e sala.

Segundo Vicente Loureiro, a relocação da população nas novas construções terá como principais motivações tirar moradores de áreas de risco e implementar melhorias no sistema viário da comunidade. Serão construídos blocos com apartamentos de até dois quartos, com cerca de 45 metros quadrados. O subsecretário explicou que, aqueles que não concordarem com a relocação, receberão indenização proporcional.

COLABORARAM: Denis Kuck e Selma Schmidt