Título: As portas se abrem para a volta de Cuba à OEA
Autor: Vaz, Viviane; Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 18/04/2009, Mundo, p. 26

Secretário-geral da Organização dos Estados Americanos defende a anulação da resolução que excluiu a ilha socialista da entidade em 1962

-------------------------------------------------------------------------------- Rodrigo Craveiro

¿Eu vou ser claro: quero Cuba de volta ao sistema interamericano.¿ O pedido do chileno José Miguel Insulza, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), dá margem à expectativa de maior protagonismo do regime castrista no cenário regional. Também ocorre no momento em que o presidente dos EUA, Barack Obama, sinaliza uma aproximação com a ilha. Em entrevista ao jornal Miami Herald, Insulza considerou ¿má ideia¿ a aprovação da resolução que afastou Cuba da entidade, em 1962. ¿O primeiro que temos a fazer na OEA, antes de sequer falar sobre o tema com Cuba, é anular a resolução (¿) e depois conversaremos.¿

Se sobra boa vontade de Insulza em reconciliar-se com o país caribenho, também sobram objeções por parte do ex-líder Fidel Castro. ¿Insulza diz que, para entrar na OEA, Cuba primeiro tem de ser aceita por aquela instituição. Ele sabe que nós nem sequer queremos ouvir o nome daquela instituição infame¿, escreveu o presidente aposentado em sua coluna na edição de anteontem do jornal oficial Granma. De acordo com Fidel, a OEA não forneceu um único serviço ao povo cubano. ¿Ela é a `encarnação¿ da traição. Se você acrescentar todas as ações agressivas das quais ela foi cúmplice, elas equivalem a centenas de vidas e a dezenas de anos sangrentos¿.

Por telefone, a norte-americana Julia Sweig ¿ diretora de Estudos da América Latina do Conselho de Relações Exteriores (com sede em Washington) ¿ disse ao Correio que, antes de se debater o retorno de Cuba à OEA, é preciso reparar a relação bilateral com os EUA. ¿Ao inserir o tema, Insulza busca que a OEA seja um fórum para o diálogo entre os países¿, explicou. ¿Existe uma vontade política, expressa abertamente por Havana e Washington, que não tem precedentes desde a Revolução Cubana de 1959.¿

Julia acredita que a Cúpula das Américas pode ser uma chance de se buscar uma nova forma de relacionamento no continente. No entanto, entende que Obama tentará evitar que o tema Cuba domine o encontro. A analista não descarta possíveis concessões feitas pela ilha caribenha e lembrou que o presidente cubano, Raúl Castro, propôs uma troca de prisioneiros. ¿Não sei se isso vai ocorrer, mas a novidade é que, ao colocar o tema sobre a mesa, Obama recebeu uma proposta, não uma recusa¿, conclui.