Título: Não sei como deve ser
Autor: Lamego, Cláudia; Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 28/11/2007, O País, p. 8

Ex-presidente da Empresa Brasileira de Notícias (EBN), atual Radiobrás, José Paulo Cavalcanti Filho não sabe por que foi indicado para o Conselho Curador da TV pública nem como ela será, mas sabe como ela não deve ser. Ele é advogado e não jornalista, como O GLOBO publicou equivocadamente ontem.

Jailton de Carvalho

A TV pública vai ser pública ou do governo?

JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO: Não tenho idéia ainda. Não sei como deve ser. Mas sei como não deve ser. Não deve ser um instrumento de proselitismo político em favor de partido nenhum, nem de estamento político. Agora, quais as linhas gerais de comunicação, nós (membros do conselho) vamos ter que sentar para conversar.

Quais são os mecanismos que se tem para garantir que a TV não se transforme num instrumento de propaganda e proselitismo?

CAVALCANTI: Não tenho nenhuma idéia. A consciência que, imagino, não é só minha, mas de todos os conselheiros, é construir alguma coisa de que nós podemos nos orgulhar. Não tenho idéia de como vamos operar esse instrumento, mas uma idéia recorrente é aquela que indica que, de todas as variáveis, a pior, a menos aconselhável, e mais condenável, é que a TV se reduza, no fundo, a um instrumento de proselitismo político. Isso seria o fim.

Mas uma TV com essa estrutura tem condições de fazer críticas ao governo?

CAVALCANTI: Se não tiver, não tem nem sentido que funcione. Não deve ser feita com o objetivo de fazer críticas ou tecer loas ao governo. A visão que temos (não conversei ainda com meus colegas de conselho), mas imagino que seja uma TV que considere que o país é amplo. O Brasil precisa conhecer melhor o Brasil. Tem de reconhecer a diversidade como uma coisa boa, e contribuir para a afirmação dessa cultura popular e profunda. Se houver um único gesto de compromisso com o proselitismo, penso que o conselho rejeitará com muita veemência.

Qual a sua experiência na área de comunicação e jornalismo?

CAVALCANTI: Fui secretário-geral e ministro da Justiça em 1985 e 1986. Fui presidente do Cade e da EBN. No Ministério da Justiça fizemos o ciclo da informação muito curioso. Primeiro fizemos um projeto de reforma da Lei de Imprensa, que é a pior lei do planeta, com a companhia da Associação Brasileira de Imprensa. Fizemos nova lei de defesa do Estado democrático, substituindo a Lei de Segurança Nacional. Depois contribuí com todos os projetos de lei de imprensa no Congresso. E, por último, fui presidente do Conselho de Comunicação Social do órgão auxiliar do Congresso.

E a que se deve a sua indicação para o conselho?

CAVALCANTI: Não tenho a mais leve idéia. Cheguei a dizer ao Franklin Martins que ele tinha pelo menos mais 20 pessoas querendo e que poderia dispor do cargo. Ele me disse que não tinha 20, que tinha 500. Mas o critério regional estaria influindo. Precisava ter gente do Nordeste.