Título: Conselho ainda não sabe como será a TV pública
Autor: Lamego, Cláudia; Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 28/11/2007, O País, p. 8

Integrantes desconhecem formato, mas dizem que serão vigilantes na defesa dos interesses públicos na empresa

Integrantes do Conselho Curador da TV pública anunciados anteontem dizem que ainda não sabem como serão a programação e o formato da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), mas que serão vigilantes na defesa do interesse público e para impedir interferência política na TV. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, disse que será "ranheta" e que "cairá fora" caso perceba alguma mistura entre interesse público e privado na empresa.

- Segundo o estatuto, não vamos interferir (no conteúdo editorial e na programação), mas sim policiar para que o que é público e o que é privado não sejam confundidos. São dois anos (de mandato). Serei ranheta e cairei fora se houver qualquer tentativa de misturar esses objetivos - disse Boni, que elogiou a diversidade dos conselheiros e ressaltou que a TV pública não será concorrente das TVs privadas. - Quase todos os países do mundo têm uma TV pública, por que não o Brasil? Por definição, ela não competirá com as redes abertas. Não terá massa crítica de audiência para isso. Não se pode criar grandes expectativas. No fundo, a TV pública é um projeto de muito longo prazo.

Belluzzo: TV deve refletir pluralidade da sociedade

A carnavalesca Rosa Magalhães, que já trabalhou na TVE como roteirista e na Rede Globo como diretora de arte e figurinista, disse acreditar que essas experiências a ajudarão na função de conselheira. Ela elogiou a variedade do conselho e disse esperar que não haja interferência política na empresa, citando a BBC londrina como um bom exemplo de TV pública.

- É muito honroso ser convidada. Vamos ver como serão os trabalhos agora. Não tenho idéia de como será a rede. A TV pública eu sei que já existe e nunca teve recursos. Sei porque já trabalhei lá. Mas espero que a televisão melhore, que tenha uma programação regional variada, que tenha campanhas institucionais, mas sem ser chata.

Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o Conselho Curador deve ser a instância necessária para que a emissora garanta o respeito à pluralidade da sociedade brasileira. Belluzzo recusou o convite para ser o presidente executivo da TV e está cotado para ser o coordenador do conselho: - O conselho deve estar sempre vigilante para impedir que a TV pública seja aparelhada pelo governo de plantão ou cometa algum deslize de opinião do ponto de vista democrático, da diversidade da sociedade que deve representar.

Cláudio Lembo, ex-governador de São Paulo (DEM), disse entender que o Conselho Curador deve garantir uma posição "absolutamente neutra" da TV estatal:

- O papel do Conselho vai ser o de fiscalizar se a TV pública vai ter de fato uma posição absolutamente neutra em relação às posições político-partidárias. Isso é importante porque existe uma deformação nas TVs públicas que já existem, essas que são ligadas aos estados. Praticamente sem exceção, todas são utilizadas pelos governadores para suas apresentações pessoais - afirmou.

Lembo acredita que o Conselho Curador terá muito trabalho, por ser uma instância que abriga pessoas que representam diversas e diferentes correntes de pensamento da sociedade:

- O trabalho nunca será tranqüilo.

Outro conselheiro, Luiz Edson Fachin, professor de Direito das Relações Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), disse que espera contribuir com a emissora como representante da comunidade jurídica. Ele defende que a TV pública comece a funcionar a partir de "três premissas básicas":

- A primeira é a coexistência com a iniciativa privada. A segunda são as diretrizes que vão assegurar a diversidade em seu funcionamento. E, por último, que ela tenha um caráter estrutural, nunca conjuntural. Ou seja, que nunca seja uma atividade do governo.

Sem experiência em TV, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos diz esperar ter discernimento, como qualquer cidadão, para avaliar a programação. Ele afirma compreender o temor da oposição em relação à influência governista na TV, mas acha que o conselho tem o papel de cuidar para que isso não aconteça.

- Não sou de televisão, não tenho talento para criar em televisão, mas, como cidadão, posso avaliar a grade de programação e ver se ela está de acordo com os estatutos da TV pública e com seus objetivos de atender a interesses públicos. Espero poder contribuir.

Ima Vieira, diretora do museu Emílio Goeldi, no Pará, diz que será representante da Região Amazônica no conselho. Para ela, nem todos os conselheiros precisam, necessariamente, ter conhecimento de TV para fazer parte do grupo:

- Cada um dos conselheiros representa uma área da sociedade civil. O objetivo é zelar por princípios, objetivos, opinar sobre a produção de material.

Ângela Gutierrez, diretora do Museu do Oratório e do de Artes e Ofícios, de Belo Horizonte, repudia a possibilidade de a emissora ser veículo de propaganda governamental:

- Ela não pode ser uma TV chapa-branca.

Colaboraram Marita Boos e Rafael Gomes, da CBN Minas