Título: Senador denuncia assédio imoral de funcionário
Autor: Damé, Luiza; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 28/11/2007, O País, p. 9

Geraldo Mesquita diz que funcionário do Planalto tentou negociar seu voto em troca de emendas

BRASÍLIA. O senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC) usou ontem a tribuna para denunciar o que classificou de "assédio imoral" que estaria sofrendo por parte do subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, Marcos Lima. Segundo o senador, Lima estaria disposto a negociar a liberação de suas emendas ao Orçamento da União em troca do seu voto a favor da prorrogação da cobrança da CPMF até 2011.

Mesquita contou que, depois de inúmeras tentativas frustradas de contato por telefone, Lima teria ido pessoalmente ao seu gabinete na semana passada e só não invadiu sua sala porque foi impedido pela chefe de gabinete. A pedido do líder do PDT, senador Jefferson Peres (AM), o caso será investigado pelo corregedor do Senado, Romeu Tuma (SP).

- Esse cara nunca me procurou, porque agora essa insistência? Isso me cheira assédio, assédio imoral, tentativa de corrupção - denunciou o senador da tribuna.

Mesquita lembrou que já havia feito um alerta sobre essas tentativas de cooptação pelo menos duas vezes. Nas duas ocasiões, porém, ele evitou citar o nome do assessor da Presidência, Marcos Lima - que ocupa a vaga que foi de Waldomiro Diniz, protagonista do primeiro escândalo do governo Lula.

- Avisei que não me submeto a uma prática dessa. O governo trata de forma desrespeitosa a própria base e está agindo de forma desastrada, nos colocando contra a parede. Estou agastado com essa situação. Considero que ainda devo satisfações a alguns companheiros de partido, por isso ainda não decidi o que fazer, mas se a votação da CPMF fosse hoje, votaria contra - admitiu Mesquita.

"É algo escandaloso", diz Jefferson Peres

Peres, preocupado com a denúncia feita por Mesquita e publicada ontem pelo "Jornal do Brasil", pediu ao presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), que solicitasse uma investigação por parte da Corregedoria da Casa:

- É algo tão escandaloso, que eu até tenho dúvida se realmente aconteceu ou se o senador interpretou mal. Eu pediria que o senador Romeu Tuma apurasse a denúncia a fim de saber se isso realmente procede.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), sugeriu que o colega fosse à tribuna esclarecer o fato pessoalmente diante do plenário. Aloizio Mercadante (PT-SP) elogiou a iniciativa do presidente interino do Senado de encaminhar a denúncia à Corregedoria da Casa, mas não escondeu sua surpresa com a situação:

- Acompanho o trabalho do Marcos Lima e jamais tive qualquer informação que o desabonasse.

À noite, a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência divulgou nota esclarecendo critérios para a liberação de emendas de senadores e lamentou a falha de comunicações entre um de seus representantes e o gabinete do senador Geraldo Mesquita. A nota diz que Lima não conversou com Mesquita e que teria sido recebido cordialmente em seu gabinete, mas como foi informado que ele estava satisfeito com relação as suas emendas, foi embora.

"Em nenhum momento a liberação de emendas foi utilizada como moeda de troca. A soberania dos Poderes Legislativo e Executiva sempre foi respeitada", conclui o texto.