Título: Nos extremos, Islândia e Serra Leoa
Autor: Beck, Martha; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 28/11/2007, Economia, p. 22

País europeu tem o dobro da expectativa de vida do africano.

RIO e BRASÍLIA. Depois de seis anos consecutivos na liderança do ranking de desenvolvimento humano, a Noruega perdeu o posto para a Islândia, um pequeno país com 300 mil habitantes, renda per capita de US$36,5 mil anuais e expectativa de vida de 81,5 anos. O país tem IDH de 0,98, ou seja, perto do máximo possível, já que a escala do índice vai de zero a 1. Na outra ponta do ranking, Serra Leoa, na África, tirou o último lugar de Níger, com um IDH de apenas 0,336.

A Islândia - "terra do gelo", nome do país em sua língua - é uma ilha do Atlântico Norte com economia muito baseada na pesca, responsável por 70% das exportações. Há ainda indústrias de software, biotecnologia e serviços financeiros. Políticas de bem-estar social típicas dos países nórdicos garantem qualidade nos serviços públicos de saúde e educação, subsídios à habitação e baixíssima desigualdade de renda.

Ironicamente, a Islândia foi alçada ao topo do ranking do IDH justamente no ano em que o Pnud escolheu as mudanças climáticas como tema de seu relatório. O país tem um dos mais adversos ambientes para a ocupação humana. E, no passado, quase se tornou inabitável. No início da sua colonização por povos do Norte da Europa, no século XIX, desmatamento e práticas inadequadas de pastagem levaram à erosão de grande parte do solo. O país foi um dos mais pobres da Europa durante séculos. Mas deu a volta por cima e hoje adota limites rigorosos para a criação de ovelhas.

Em Serra Leoa, a expectativa de vida é quase metade da islandesa: 41,8 anos. O país foi assolado por uma guerra civil que, ao longo de uma década, matou 50 mil pessoas e amputou centenas. A paz é recente, foi selada entre governo e rebeldes em 2001. Na lanterninha do IDH, Serra Leoa lidera o ranking do Pnud dos países mais pobres do mundo. Só 34,8% dos jovens e adultos sabem ler e escrever. E a renda per capita não passa de US$806 por ano. (L.R. e D.W.)