Título: Índice que mede pobreza ainda está entre os piores da América Latina
Autor: Almeida, Cássia; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 28/11/2007, Economia, p. 23

No mundo, 1 bilhão de pessoas vive com menos de US$1 por dia.

RIO e BRASÍLIA. A posição do Brasil no ranking de Pobreza Humana piorou, apesar de, como ocorreu com o IDH, o país ter registrado melhora nesse indicador. Isso porque outros países avançaram em ritmo maior. Com um percentual de 9,7%, o Brasil está em 23º lugar, uma posição abaixo da de 2004. O ranking ordena as nações das menos pobres para as mais pobres.

Nesse indicador, a renda não é o mais importante. Ele avalia a probabilidade, ao nascer, de se chegar aos 40 anos, bem como o acesso a alfabetização e a água tratada, essenciais a saúde. Também inclui a incidência de crianças com peso abaixo do recomendado para sua idade e os cidadãos vivendo em pobreza extrema. Ao nascer, o brasileiro tem uma probabilidade de 9,2% de não chegar aos 40 anos; 10% da população não têm acesso a água tratada; e 6% das crianças de até 5 anos sofrem de desnutrição.

O Brasil está atrás de seus vizinhos, como Uruguai, Chile, Argentina, Colômbia, Equador, Paraguai e Venezuela, ficando à frente de Bolívia e Peru.

O relatório mostra como a pobreza extrema assola o mundo: cerca de 1 bilhão de pessoas ainda vive com menos de US$1 por dia. No ritmo atual, só 32 países, de um total de 147, deverão cumprir a meta do milênio de reduzir em dois terços a mortalidade das crianças com menos de 5 anos.

Economista: Bolsa Família agiu mais contra pobreza

No Brasil, a pior classificação no Índice de Pobreza Humana é a chance ao nascer de se completar 40 anos: o país despenca para a 94ª posição, atrás de Trinidade e Tobago e à frente da Colômbia. A melhor posição está na taxa de desnutrição. Nesse quesito, o Brasil sobe para o sexto lugar.

Apesar dos elogios do Pnud aos efeitos do Bolsa Família na redução da desigualdade brasileira, a economista Lena Lavinas, da UFRJ, avalia que o programa de transferência de renda teve mais efeitos na redução da pobreza extrema no Brasil. Para ela, os benefícios previdenciários, como aposentadoria rural e benefício de prestação continuada vinculados ao mínimo, foram mais eficazes na melhoria da distribuição de renda:

- O Bolsa Família é eficaz para reduzir a intensidade da pobreza. Mas é o conjunto dos programas de transferência de renda que permitiu a redução da pobreza e da desigualdade. Eu não tenho dúvida de que, se os benefícios previdenciários fossem desvinculados do mínimo, a desigualdade aumentaria.

O ranking de pobreza exclui os países de mais alto IDH, totalizando 108 nações. Nas piores posições estão os africanos Níger, Etiópia, Burkina Faso, Mali e Chade. (Cássia Almeida, Luciana Rodrigues e Martha Beck)