Título: Brasil melhora, mas ainda é 11º mais desigual
Autor: Almeida, Cássia; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 28/11/2007, Economia, p. 23

AVANÇOS E DESAFIOS: Transferência de renda e salário mínimo maior contribuem para alterar situação brasileira

Em uma lista de 177 nações, país é um dos poucos a reduzir as disparidades e se move uma posição no ranking

RIO e FORTALEZA. O Brasil foi um dos poucos países que apresentaram melhora no ranking da desigualdade, segundo o Relatório de Desenvolvimento. Caiu do 10º em 2004 para o 11ºlugar em 2005. Em 2002, estava na 4ª posição. Ainda assim, continua numa posição vergonhosa na lista dos 177 países, especialmente perante às nações vizinhas.

À frente do Brasil, estão países africanos como Namíbia, que ocupa o 1º lugar, com Índice de Gini de 0,78 (quanto mais perto de um, maior a concentração de renda no país). O Gini no Brasil está em 0,57. Na América Latina e no Caribe, têm distribuição de renda pior que a brasileira Bolívia, Haiti, Colômbia e Paraguai.

- Ainda estamos longe de ver o país sem empregadas domésticas e ter a segunda maior frota do mundo de jatos. Mas avançamos, sem dúvida - afirmou o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Sergei Soares.

O coordenador do relatório, Kevin Watkins, elogiou os programas de distribuição de renda do governo. "Freqüentemente os economistas nos dizem que é preciso escolher entre crescimento econômico e redistribuição, e o Brasil está mostrando que se pode ter os dois", afirmou no relatório.

Para Soares, entre os fatores que explicam o avanço brasileiro estão a universalização do ensino fundamental e a desconcentração industrial regional. Ele cita ainda as políticas públicas de transferência de renda, o Bolsa Família, e a valorização do salário mínimo como responsáveis pela queda recente da desigualdade no país. O relatório faz elogios específicos ao Bolsa Família.

O programa tirou Antônia Eva da Conceição Sousa da mendicância. Houve um tempo em que ela ganhava R$10 por dia, mais a comida para os filhos: Vitória, de 8 anos, e Gisele, de 5 e deficiente física, e o menor de 3. Desempregada há quatro anos, ela começou a pedir esmolas. Há cerca de um ano passou a receber R$112 por mês do Bolsa Família e aposentadoria por invalidez para Gisele no valor de um mínimo.

- Esse dinheiro veio para me ajudar a não sair mais na rua e sofrer humilhação. Meu sonho é comprar um carrinho para vender cachorro-quente e pôr uma dentadura.

China contribui para maior desigualdade mundial

A diminuição da desigualdade no Brasil está na contramão do que vem ocorrendo nos países desenvolvidos, onde ela está crescendo.

- O Brasil é uma exceção à regra. Gostaria de cumprimentar o presidente Lula e seu governo. (...) O Brasil continua um país injusto. Mas está na direção correta - afirmou Kemal Dervis, administrador do Pnud.

O relatório do Pnud destaca que mais de 80% da população mundial vivem em países onde a desigualdade aumenta. Esse número é fortemente influenciado por China e Índia, em que vivem 2,4 bilhões de pessoas (mais de um terço da população mundial). Nos últimos anos, esses países experimentaram forte crescimento, porém com maior concentração de renda.

- A desigualdade está crescendo na China, e isso está relacionado a mudanças estruturais, de transição para uma economia de mercado - diz Marcelo Medeiros, do Centro Internacional de Pobreza da ONU.