Título: Educação avança, mas analfabetismo persiste
Autor: Beck, Martha; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 28/11/2007, Economia, p. 24

Ensino foi único com elevado IDH. Governo enviou dados antigos para estudo do Pnud.

BRASÍLIA. A educação puxa para cima o IDH do Brasil. Dos três indicadores do índice - expectativa de vida, ensino e PIB per capita -, o único em que o país individualmente atingiu alto grau de desenvolvimento humano é a educação, com pontuação de 0,883, na escala de 0 a 1. Mas o bom desempenho esconde disparidades regionais, a dívida do analfabetismo e a falta de qualidade, maior desafio do Plano de Desenvolvimento da Educação lançado pelo presidente Lula em abril.

O cálculo do IDH considera apenas a taxa de alfabetização de jovens e adultos e o número de matrículas no ensino fundamental, médio e superior. Enquanto a posição geral do IDH brasileiro é a 70ª entre 177 nações e territórios, a taxa combinada de matrículas é a 36ª mais alta, resultado do esforço consolidado na década de 1990, no governo Fernando Henrique, quando 97% das crianças de 7 a 14 anos foram levadas à escola, segundo o censo escolar. Já o índice de analfabetismo da população de 15 anos ou mais é o 64º maior no ranking.

- O IDH toma como medida o atendimento escolar, ou seja, as matrículas. O país fez um esforço enorme em termos de cobertura, não é novidade. O desafio agora é que os alunos consigam aprender - diz a presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Maria Auxiliadora, titular da secretaria da Educação em Tocantins.

Taxa de alfabetização no Nordeste era de 78%

A taxa de alfabetização brasileira de jovens e adultos de 15 anos ou mais estava em 89%, em 2005, segundo o IBGE. No Nordeste, era menor: 78,1%. Em Alagoas, estado com maior proporção de analfabetos, o índice caía para 70,7%.

Em 2006, segundo a Pnad, 97,7% das crianças de 7 a 14 anos estavam matriculadas. Entre os jovens de 15 a 18 anos, a proporção era menor: 82,5%, sendo que apenas metade deles estava no ensino médio. Já no nível superior, apenas 11% da população de 18 a 24 anos cursavam a faculdade.

Por erro do governo brasileiro, o Pnud calculou o IDH do país de 2005 com dados de 2004. A taxa de alfabetização usada foi 88,6%, e não 89%. Os técnicos do Pnud repetiram a taxa de matrículas. Ela só aumentou porque passou por revisão, subindo de 86% para 87,5%.

Segundo o Pnud, governo enviou dados para a OCDE

O Pnud informou que os dados de 2004 foram usados em 2005 porque o governo brasileiro não encaminhou as novas estatísticas a tempo. O redator principal do grupo que elaborou o relatório, Kevin Watkins, disse que o Pnud busca os dados no Instituto de Estatísticas da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), no Canadá.

O assessor do Pnud, Flávio Comim, informou que em abril de 2007 os dados brasileiros de 2005 não haviam chegado ao instituto. O problema teria sido causado por um erro do governo brasileiro, que enviou as informações para a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Reynaldo Fernandes, reconhece que o órgão não enviou à Unesco em 2006 (para o relatório de 2006) os dados de 2004, e sim dados antigos. E confirma que enviou em novembro de 2006 à OCDE dados de 2004, afirmando não ter a Pnad-2005. Para ele, neste caso, OCDE e Unesco deveriam conversar.