Título: ONU faz elogios a etanol brasileiro
Autor: Rodrigues, Luciana; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 28/11/2007, Economia, p. 25

AVANÇOS E DESAFIOS: Relatório do Pnud critica as barreiras impostas pelos países ricos ao combustível do Brasil.

Lula sugere taxação do petróleo para reduzir a emissão de gases.

RIO e BRASÍLIA. Em seu Relatório de Desenvolvimento Humano, o Pnud faz uma dura crítica às barreiras protecionistas dos países ricos ao etanol brasileiro. A produção de álcool no Brasil é citada como exemplo de política de preservação ambiental que promove o desenvolvimento econômico. A ONU destaca que o etanol feito de cana-de-açúcar é mais barato e muito mais eficiente em reduzir as emissões de gases do efeito estufa do que o álcool feito de milho nos Estados Unidos ou os biocombustíveis produzidos na Europa.

"Remover as tarifas (à importação do etanol brasileiro nos países ricos) geraria ganhos não só para o Brasil como para a mitigação das mudanças climáticas", diz o texto.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou os países ricos por cobrarem dos pobres a redução da emissão de gases que contribuem para o efeito estufa. Lamentando as barreiras ao etanol brasileiro, ele também sugeriu a taxação do petróleo:

- Cadê o equilíbrio comercial? Cadê a vontade de despoluir o planeta? Cadê a vontade de diminuir a emissão de gases do efeito estufa? Poderia começar taxando o petróleo.

Segundo o Pnud, na comparação com o petróleo, o etanol de cana-de-açúcar reduz em cerca de 70% as emissões de gases poluentes. O etanol de milho, em apenas 13%. Os biocombustíveis produzidos na Europa são ainda mais ineficientes, afirma o relatório.

O Pnud garante ainda que o etanol brasileiro tem impacto ambiental limitado e não tem provocado desmatamento, uma vez que só 1% da produção tem origem na Amazônia. Mas dados recentes mostram que o plantio de cana tem crescido na região. Só no Estado do Amazonas, o crescimento da área plantada na safra 2007/2008 foi de 8%.

O especialista Alfred Szwarc, consultor da União da Agroindústria Canaveira de São Paulo (Unica), explica que a produção de etanol de milho é mais poluente porque usa mais combustível fóssil (óleo diesel, gás natural e óleo combustível). Além disso, o bagaço da cana é usado como combustível para calor industrial nas usinas. A produção de etanol no Brasil é, assim, auto-suficiente em energia e, em alguns casos, as usinas até "exportam" eletricidade.

- No Brasil, a produção é de 7 mil litros de etanol por hectare de cana plantado. Nos EUA, com o milho, é de 3,5 mil litros por hectare - diz Szwarc.

O Pnud também aponta especificamente os subsídios americanos aos produtores de milho como responsáveis pela alta nos preços de alimentos. Nesse ponto, destoa de análises anteriores de outras agências da ONU, que alertavam sobre os riscos da produção de etanol, de forma generalizada, para a segurança alimentar.

Lula prometeu que o Brasil será firme na conferência sobre o clima em Bali, em dezembro.

- Vamos discutir com muita seriedade o preço que os países ricos têm de pagar para que os mais pobres possam preservar suas florestas, porque você não vai convencer um pobre, de nenhum país, de que ele não pode cortar uma árvore se não tiver como troco o direito de trabalhar, o direito de comer - afirmou Lula. - Estamos dispostos a dialogar, mas não vamos aceitar imposições.

Lembrando que 85% dos carros vendidos no Brasil são flex, o presidente lamentou as sobretaxas ao etanol brasileiro, o que eleva seu valor em quase 100%, e criticou os EUA:

- Se depender de cada nação tomar as decisões a partir das suas necessidades internas, os EUA vão continuar produzindo etanol de milho, pois quem vota nos EUA são os produtores de milho.

Lula defendeu ainda uma mudança no padrão de consumo global, ao lembrar que se constroem prédios com vidro fumê que demandam luz e ar-condicionado. E apregoou que seria bom que as pessoas se contentassem com poucos bens.

Uma das representantes do Brasil na conferência de Bali, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, defendeu que os países em desenvolvimento sigam o exemplo do Brasil e diversifiquem suas matrizes energéticas. Ela lembrou que o país reduziu o desmatamento em meio bilhão de toneladas nos últimos dois anos.

- Isso representa 14% de tudo o que os países ricos teriam que reduzir até 2012.