Título: Após dizer que jovem tinha debilidade mental, delegado-geral pede demissão
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Fonte: O Globo, 29/11/2007, O País, p. 4

SEGURANÇA PÚBLICA: Benassuly afirmou não ter sabido usar as "palavras certas".

Governadora considerou insustentável permanência do policial no cargo.

BELÉM. Um dia depois de dizer que a adolescente de 15 anos presa numa cela com 20 homens, no Pará, "tem alguma debilidade mental", o delegado-geral do estado, Raimundo Benassuly, pediu demissão. A declaração revoltou os que assistiam à audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado, em Brasília. Ele disse que "a moça tem certamente algum problema, alguma debilidade mental". Isso porque, segundo o policial, a jovem "em nenhum momento declarou sua menoridade".

Em entrevista no Palácio dos Despachos, em Belém, ontem, a governadora Ana Júlia Carepa (PT) agradeceu pelos serviços prestados por Benassuly, "com ética e dedicação", nos 11 meses em que ocupou o cargo:

- O delegado colocou seu cargo à disposição do governo por reconhecer que se expressou de maneira inadequada. De pronto, aceitei o pedido, porque considero que a sua permanência no cargo é insustentável.

"Não soube usar as palavras certas para expressar minha preocupação e indignação quanto ao estado de saúde, no presente e futuro, da menor que foi destituída de todos os seus direitos como ser humano em uma carceragem na cidade de Abaetetuba", disse o delegado em nota entregue a Ana Júlia.

O cargo de Benassuly - que equivale, no Rio, ao de chefe da Polícia Civil - será ocupado interinamente pelo delegado Justiniano Alves.

A afirmação de Benassuly também foi repudiada por representantes dos direitos humanos no Pará. A coordenadora da Comissão Interministerial para Revisão do Sistema Prisional Feminino e diretora da Secretaria Especial de Políticas Públicas para Mulheres, Elisabete Pereira, disse que não existe justificativa para as declarações do delegado:

- É uma violência jogar qualquer mulher com 20 homens em uma cela.

Com O Liberal