Título: Petistas em inferno astral
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 29/11/2007, O País, p. 5

Ana Júlia, no Pará, e Wagner, na Bahia, têm dias difíceis.

BRASÍLIA. Dois governadores petistas vivem seu inferno astral. A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, demorou quase um ano para se livrar das muletas que a ajudavam a caminhar, desde que sofreu um acidente na campanha eleitoral do ano passado. Agora, a menos de um mês de completar 50 anos - em 23 de dezembro -, ela se desdobra em explicações, na tentativa de justificar a omissão do estado no caso da adolescente de 15 anos que sofreu abusos de outros presos com quem dividiu a cela. Para outro petista, o governador baiano Jaques Wagner, o inferno astral também chegou quatro meses mais cedo (ele aniversaria em março). Wagner é acusado pelos adversários locais de ter feito uma reforma de fachada no Estádio Fonte Nova, em Salvador, onde sete pessoas morreram com a queda de uma arquibancada, no domingo. Nos dois casos, Ana Júlia e Jaques Wagner encontraram a mesma solução: a demolição da cadeia e do estádio.

Os dois governadores se preparavam, como todos os correligionários petistas, para entrar no clima de festas de fim de ano, comemorando os resultados do governo Lula, principalmente os indicadores econômicos. Tanto Ana Júlia como Wagner viviam tempos de tranqüilidade em seus estados, depois de alguns tropeços no início da gestão.

Na semana passada, a governadora deu mostras de seu estado de espírito quando, num ato público no Congresso, ensaiou passos de carimbó com o vice-presidente José Alencar. Logo no início do mandato, ela virou notícia nacional por causa da contratação de parentes e amigos, inclusive sua esteticista e o então namorado. O nepotismo foi um dos seus maiores problemas até que se tornasse pública a situação de violência e abuso contra mulheres nas cadeias paraenses.

O governador baiano, por sua vez, acreditava que já tinha vivido seus momentos mais difíceis no primeiro semestre deste ano, quando uma greve de professores se arrastou por meses, maculando a estréia do petista, que chegou a ser apontado, quando eleito, como um dos pré-presidenciáveis do PT em 2010. Além do desgaste na gestão administrativa, Wagner viu seu nome citado nas investigações da Operação Navalha, por causa de uma suposta amizade com Zuleido Veras, dono da empreiteira Gautama, que, segundo a PF, superfaturava obras públicas. E ainda teve que ouvir críticas públicas da própria mulher a sua gestão.