Título: Investimento estrangeiro é o maior em 60 anos
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 29/11/2007, Economia, p. 27

Com US$33,4 bi acumulados de janeiro a outubro, cifra supera patamar de 2000. Total de 2007 pode atingir US$35 bi.

BRASÍLIA. Dados das contas externas brasileiras divulgados ontem pelo Banco Central (BC) apontam 2007 como o ano em que mais entraram investimentos estrangeiros diretos (direcionados ao setor produtivo) no país, desde o início da série histórica, em 1947: US$33,4 bilhões. Faltando 35 dias para o fim do ano, o volume já supera o recorde anterior, de 2000, quando os ingressos foram de US$32,779 bilhões, ainda sob forte influência do processo de privatizações no Brasil.

Em outubro, esses investimentos somaram US$3,188 bilhões, valor 85,1% superior ao registrado em igual mês do ano passado (US$1,722 bilhão). Nos dez primeiros meses do ano, entraram no Brasil sob essa rubrica US$31,2 bilhões, 128,9% mais que no mesmo período de 2006 (US$13,628 bilhões). Os dados parciais até o dia 26 de novembro indicam mais US$2,2 bilhões. Em 12 meses, o valor chega a US$36,355 bilhões.

- Os dados acumulados superaram nossa expectativa do ano, de US$32 bilhões. Acreditamos que eles vão superar US$35 bilhões - afirmou Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC.

Os setores que lideram os investimentos nos primeiros dez meses de 2007 são metalurgia (US$4,365 bilhões) e serviços financeiros (US$3,829 bilhões). Se forem excluídos Holanda e Luxemburgo (primeiro e terceiro lugares, respectivamente, onde muitas empresas mantêm holdings por questões tributárias), os três países que mais destinaram recursos ao Brasil foram Estados Unidos, Espanha e Alemanha.

O BC também informou que os estrangeiros aplicaram US$4,366 bilhões em ações de empresas brasileiras em outubro. No acumulado do ano, o valor é de US$19,094 bilhões, o melhor da série. Lopes atribui o recorde, entre outros fatores, ao grande interesse estrangeiro pela abertura de capital da Bovespa.

O BC aponta ainda para um aumento no número de grandes transações: nos dez primeiros meses de 2006, não havia operação alguma com valor individual acima de US$1 bilhão. Em 2007, elas somam US$5,856 bilhões. Os investimentos produtivos brasileiros no exterior foram de US$4,147 bilhões.

Remessa fez país ter déficit em transações correntes

O balanço de pagamentos registrou em outubro saldo positivo de US$4,3 bilhões. O valor só não foi maior porque as transações correntes (demais operações brasileiras com o exterior) tiveram déficit de US$42 milhões, influenciado por remessas de lucro de US$2,201 bilhões - refletindo os altos lucros das multinacionais - e os gastos dos brasileiros no exterior.

No ano, as transações correntes registram superávit de US$5,597 bilhões, 52,5% menos que o dos dez primeiros meses de 2006. O BC espera um déficit em novembro de US$700 milhões. Para 2008, o mercado também aposta que o ano feche deficitário em US$4 bilhões.

- Isso pode ajudar a compensar a entrada de dólares de investimento estrangeiro direto - afirma Tomás Goulart, economista da Modal Asset Management.