Título: Alunos deixam escola sem sequer o básico
Autor: Weberm Demétrio
Fonte: O Globo, 30/11/2007, O País, p. 3

Relatório da Unesco alerta para riscos decorrentes da baixa qualidade do ensino.

NOVA YORK. Apesar do esforço para chegar a uma educação primária universal, o Brasil ainda é responsável por 20% dos alunos fora da escola em toda a América Latina. Além disso, o país continua a ter forte desigualdade na escolaridade de meninos e meninas e elevado percentual de adultos analfabetos, além de qualidade de ensino muito deficiente. Essa é a conclusão de Nicholas Burnet, diretor responsável pelo relatório de monitoramento do Educação Para Todos (EPT) da Unesco (EFA Global Monitoring Report 2008), lançado ontem. O relatório monitora seis objetivos do programa Educação Para Todos: expandir e melhorar a educação na primeira infância; fornecer educação primária universal gratuita e obrigatória até 2015; eqüidade de acesso a programas educacionais; melhorar em 50% a taxa de alfabetização de adultos; eliminar disparidades de gênero em todos os níveis até 2015 e melhorar a qualidade da educação.

- O Brasil fez um esforço importante, mas é preciso fazer muito mais. O país está na lista daqueles que correm o risco de descumprir as metas de igualdade de acesso para meninos e meninas e a meta de eliminar em 50% a taxa de analfabetismo adulto. E, além disso, há um problema muito grave no que se refere à qualidade do ensino no Brasil. É elevada a quantidade de alunos que saem da escola sem ter aprendido sequer o básico. Na América Latina, o Brasil ainda abriga 20% do número de crianças que estão fora da escola. Esse relatório é uma advertência de que é preciso fazer mais na área de educação - disse Nicholas Burnet, recentemente nomeado diretor-geral assistente na área de educação da Unesco.

No mundo, o número de crianças fora da escola caiu drasticamente, de 96 milhões para 72 milhões em 2005. Países onde matrículas em escolas primárias subiram muito geralmente aumentaram seus gastos com educação em relação ao PIB. Gastos públicos em educação aumentaram mais de 5% anualmente na África Subsaariana e no Sul e Oeste da Ásia. De 1999 a 2005, mais 17 países atingiram a paridade de gênero na educação primária, com um número igual de meninos e meninas freqüentando a escola. Dentre esses estão Gana, Senegal, Malaui, Mauritânia e Uganda; 19 países atingiram paridade na educação secundária, incluindo Bolívia, Peru e Vietnã. Como conseqüência, a paridade de gênero em educação foi atingida em 63% dos países no nível primário e 37% no nível secundário.

Mais meninas do que meninos na educação secundária

O Índice de Desenvolvimento do Educação para Todos (EDI), calculado para 129 países, mostra que 25 deles estão longe de atingir o EPT. Aproximadamente dois terços desses países estão na África Subsaariana, mas Bangladesh, Índia, Nepal, Mauritânia, Marrocos e Paquistão também estão inclusos. Outros 53 países estão em posição intermediária. Nesse grupo, as taxas de participação na educação primária são freqüentemente altas, mas a baixa qualidade da educação e baixos níveis de alfabetismo em adultos fazem com que o valor do EDI caia. Esse é o caso do Brasil. Baseado em projeções das tendências atuais, 58 dos 86 países que não atingiram a educação primária universal não irão atingi-la até 2015.

Além disso, as meninas ainda respondem por 60% das crianças fora da escola nos países árabes e 66% em países do Sul e Oeste da Ásia. As projeções com base nas tendências atuais mostram que o objetivo de eliminar as disparidades de gênero nos níveis primários e secundários da educação não será atingido até 2015 em mais de 90 dos 172 países. Entre eles está o Brasil. Em vários países, especialmente na América Latina, isso ocorre porque há um maior número de meninas do que meninos na educação secundária.

A baixa qualidade da educação é uma questão global que está recebendo crescente atenção política. Entre os países em desenvolvimento, o desafio de melhorar a qualidade envolve lidar com as altas taxas de evasão, baixo desempenho dos alunos, falta de professores e tempo de ensino insuficiente. Avaliações de aprendizagem nacionais em vários países em desenvolvimento, caso do Brasil, indicam que até 40% dos alunos não atingem um padrão de educação mínimo em matemática e na alfabetização.

A Unesco constatou que há governos negligenciando a alfabetização para adultos: no mundo inteiro, 774 milhões de adultos carecem de habilidades básicas de leitura e escrita. Mais de três quartos desses adultos vivem em 15 países, e o Brasil está entre eles. Baseado nas tendências atuais, 72 dos 101 países para os quais projeções foram calculadas não terão êxito em reduzir pela metade as taxas de analfabetismo até 2015. Um dos países para os quais se acendeu o sinal de alerta neste item é o Brasil.