Título: Não sou inspetor-geral do governo
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 30/11/2007, O País, p. 4

Mangabeira se recusa a falar de "assuntos circunstanciais" como CPMF e educação.

BRASÍLIA. Há cinco meses no cargo e já tendo enfrentado até a extinção da sua pasta, o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) ainda tem de explicar qual o seu papel no governo. Em entrevista a emissoras regionais de rádio, ontem, ele perdeu a paciência ao ser perguntado três vezes sobre políticas públicas do governo em execução e que não são de sua pasta. Indagado sobre a situação da educação no país, voltou a dizer que não trata de políticas do governo em curso, mas de formulações para o futuro.

Irritado, ele disse que não é "inspetor-geral do governo", ao responder a uma pergunta sobre a transposição do Rio São Francisco. Disse ainda que não falaria sobre a CPMF, apontada por ele como tema menos importante. E causou polêmica ao dizer que, entre meio ambiente e desenvolvimento, o país deve optar por desenvolvimento:

- Se o Brasil, não eu, tiver de escolher entre ambientalismo e desenvolvimento, escolherá desenvolvimento, e qualquer país faria essa escolha. Isso não é uma questão de valorização pessoal. Nenhum país vai escolher virar um parque para preservar a natureza. O que eu disse é que essa escolha é uma escolha falsa. Não podemos aceitar essa escolha. Temos de encontrar um modelo que nos permita crescer sem depredar a natureza.

O ministro, que concedeu ontem a primeira entrevista coletiva desde sua posse, estava esclarecendo uma resposta sobre a matriz energética brasileira. Ele afirmou que, ao dar essa resposta, estava sendo "prático e transparente". O programa "Bom dia, ministro" é coordenado pela Rádio Nacional de Brasília, com a participação de emissoras do país.

Por três vezes, ele teve de explicar que sua função é planejar políticas públicas para o futuro, como a elaboração do plano de defesa nacional. Embora o tema seja prioridade para o governo no momento, Mangabeira não quis falar de CPMF:

- Muita gente no país e no governo trata do urgente. A minha tarefa é tratar do importante. Não trato de assuntos conjunturais ou circunstanciais. Se eu começar a entrar nesse debate, começo a confundir as coisas. Tenho de insistir na pureza da minha tarefa, que é a formulação de grandes projetos de construção nacional. Toda a mídia está obcecada por assuntos passageiros. Ninguém no Brasil (ou poucos) quer discutir o que importa. Milhares de pessoas podem tratar da CPMF, não serei uma delas.

A irritação ficou evidente quando a pergunta foi sobre a revitalização do Rio São Francisco:

- Não sou uma espécie de inspetor-geral do governo. Não tenho de dar opinião sobre todas as políticas públicas: faça uma barragem aqui, uma transposição ali. Esse projeto não está entre as grandes iniciativas nacionais com as quais estou trabalhando.

Mais uma vez o ministro explicou declarações de 2005, quando disse que o governo Lula era o mais corrupto da História:

- Fui um crítico severo de determinados aspectos do primeiro governo do presidente Lula. Em algumas das críticas me excedi, levado pela paixão. Não foi fácil para o presidente fazer o convite e não foi fácil para mim aceitar, mas no final prevaleceu a convicção da importância da tarefa. Estou entregue de corpo e alma a esse trabalho, com imenso sacrifício pessoal, mas com um sentimento de arrebatamento e contando com apoio entusiasmado do presidente.