Título: Zilda Arns deixa coordenação nacional da Pastoral da Criança
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Fonte: O Globo, 30/11/2007, O País, p. 14

Médica descarta aposentadoria e critica decreto que define regras para ONGs.

CURITIBA. Depois de 25 anos à frente da Pastoral da Criança, a médica Zilda Arns deixou ontem a coordenação nacional da entidade. Em seu lugar, assume a irmã Vera Lúcia Altoe, de 51 anos, na Pastoral desde 1997, que atuava na Arquidiocese de Cuiabá. Zilda Arns, no entanto, disse que não pretende se aposentar.

- Vou tentar manter uma vida mais regrada, mas os apelos são grandes para continuar na ativa. Pretendo retomar visitas a Angola, Timor Leste e Guiné-Bissau, e consolidar a Pastoral da Criança lá fora. É preciso voltar aos locais para ver se o instrumento está afinado - afirmou.

Ela quer pressionar o governo brasileiro a implantar políticas de educação e saúde:

- A Pastoral foi criada para acabar com a mortalidade, a desnutrição e a violência, problemas que envolvem as políticas públicas de saúde e educação. À medida em que a educação e a saúde forem prioridade dos governos, conseguiremos diminuir os problemas sociais.

A médica aproveitou a oportunidade para criticar o decreto que define novas regras para transferência de recursos entre a União e as organizações não-governamentais (ONGs). Caso o decreto vire lei, a partir de janeiro, segundo ela, o trabalho da Pastoral da Criança em 43 mil comunidades do país está ameaçado e pode parar:

- O decreto foi muito mal elaborado. A assessoria que elaborou o documento nunca pisou o pé na estrada, é desligada da realidade brasileira e castiga os que chegam às mais pobres comunidades, como a Pastoral.

Zilda Arns adiantou que vai se reunir com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT-PR), para que o decreto seja revisto, especialmente a exigência de que todas as transações sejam feitas por conta bancária.

Na Pastoral da Criança, a contabilidade é centralizada, mas os recursos são descentralizados entre 310 dioceses através de conta do Banco do Brasil. Dali em diante, as paróquias e as comunidades recebem o dinheiro.

- Nossos pobres não têm conta bancária. É impossível administrar a pobreza por conta bancária. Como vou à feira exigir nota fiscal? - criticou Zilda Arns