Título: Kombis e vans levam eleitores às urnas
Autor: Farah, Tatiana; Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 03/12/2007, O País, p. 3

Em SP, candidatos são acusados de transportar votantes, infringindo estatuto do PT.

RIO e SÃO PAULO. A eleição do PT em São Paulo foi marcada por denúncias e representações de abuso de poder econômico das chapas que apóiam os candidatos Jilmar Tatto e Ricardo Berzoini. As denúncias partem de várias regiões do país, como Mato Grosso do Sul, Piauí, Pernambuco e São Paulo. Ontem, durante a votação em São Paulo, o grupo de Tatto fretou vans para transportar eleitores na periferia da Zona Sul de São Paulo.

- Estão me pagando R$100 pelo dia de transporte, fora a Kombi - disse um dos motoristas das Kombis fretadas, na Zona Sul de São Paulo.

Pelo artigo 42 do estatuto interno do PT, chapas e candidatos não podem contratar transporte coletivo para estimular eleitores a votar. O estatuto estimula o transporte solidário, ou seja, a carona para companheiros de partido no dia das eleições.

Tatto argumentou que, além dele, os candidatos Ricardo Berzoini, presidente do PT, e José Eduardo Cardozo, do grupo Mensagem ao Partido, também fazem esse tipo de transporte.

- A norma diz, na verdade, que devemos facilitar a vida do eleitor no PT. Tanto que Berzoini e Cardozo também fazem isso - disse Tatto.

As campanhas dos dois candidatos negaram. Cardozo disse que considera a medida errada, porque impede a igualdade entre as candidaturas e prejudica o aspecto ideológico das eleições no partido. Berzoini disse que não tem conhecimento do caso.

O secretário nacional de Organização do PT, Romênio Pereira, disse que o PT avaliará cada caso:

- A executiva nacional discutirá os casos. Se houver problemas (risco de impugnação de candidaturas) levaremos o caso a uma reunião do Diretório Nacional - disse Romênio.

Em São Paulo, secretário de Lula mandou cartas aos petistas

Em São Paulo, até o secretário pessoal do presidente Lula, Gilberto Carvalho, foi envolvido, como divulgou O GLOBO. Ele mandou cartas aos petistas e o endereço no remetente era de uma empresa de comunicação. A empresa foi contratada pelo candidato Edinho Silva, apoiado pelo ex-ministro José Dirceu. O presidente do PT estadual, Paulo Frateschi, também teria usado uma conta do diretório com os Correios para enviar cartas de seu candidato.

No Rio, a eleição também foi marcada por transporte irregular de filiados, distribuição de material dos candidatos, ausência de nomes de integrantes do partido nas listas de votação e boca-de-urna. Os casos ocorreram na Zona Oeste e na Baixada Fluminense. Até as 20h, Alberto Cantalice era favorito para ser reeleito no comando do diretório estadual por mais dois anos. O resultado deve ser divulgado hoje.

Na 24ª Zonal, na Rua Carumbé, em Realengo, uma Kombi transportava os filiados. Segundo o coordenador da chapa municipal "Unindo Forças", Silas Antônio Braz, a Kombi levaria pelo menos 40 pessoas às urnas até o fim da votação. Todas eram orientadas a optar pelos candidatos Ricardo Berzoini (presidência nacional), Washington Quaquá (estadual) e Antônio Neiva (municipal), e pelas chapas "Construindo um Novo Brasil" e "Unindo Forças" (estadual e municipal).

- O pior é fazerem boca-de-urna. Estão espalhando esse folheto por aí - acusou Braz, com um folder nas mãos da chapa "Fórum de Idéias por um Brasil Socialista (Fibs)", ligada à secretária estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Benedita da Silva, que apóia a reeleição dos petistas Ricardo Berzoini e Alberto Cantalice.

Benedita protagonizou uma cena curiosa ontem durante a sua votação, no Morro do Chapéu Mangueira, no Leme. Depois de assinar a lista de presença, a secretária se encaminhou para votar e um filiado do PT acompanhou todo o processo ao lado da petista. Surpresa, a pré-candidata do partido à Prefeitura do Rio, em 2008, brincou:

- Isso é boca-de-urna.

Réplicas de cédulas de votação, que tinham os nomes dos candidatos preferidos das chapas, e material eleitoral como adesivos, cartazes e folhetos foram distribuídos na entrada de algumas zonais da capital e do interior do estado. Dos 71.400 filiados do PT aptos a votar no Rio, a expectativa do partido era de que o número de votantes não ultrapassasse os 21 mil integrantes que compareceram na última eleição, em 2005. Disputam também a presidência da direção estadual Eric Vermelho e Chistiane Granha.