Título: Berzoini larga na frente no PT
Autor: Farah, Tatiana; Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 03/12/2007, O País, p. 3

Correntes do partido já começam a articular alianças para eventual segundo turno.

Mal as urnas das eleições para a direção do PT foram fechadas ontem à tarde, os dirigentes do partido iniciaram as articulações para um eventual segundo turno e a composição do Diretório Nacional, que definirá a executiva do partido. Um consenso estava decidido: seja quem for o novo dirigente, o presidente Lula dará as cartas para 2010. Por volta das 23h, o PT divulgou o último boletim do dia. Dos 33.886 votos já apurados (10% do total estimado), de urnas de 491 municípios de vários estados, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, obteve 46,49%; Jilmar Tatto, 20,51%; José Eduardo Cardozo, 18,86%; Valter Pomar, 10,10%; Gilney Viana, 2,68%; Markus Sokol, 0,98%; e José Carlos Miranda, 0,37%.

A apuração será fechada ao longo da semana. Se houver segundo turno, será dia 16. Lula festejou a mobilização interna e elogiou Berzoini.

- Enquanto todo mundo dizia que o PT estava morto, 330 mil pessoas compareceram para votar no PED (Processo de Eleições Diretas) de 2005. Essa força viva do PT vai continuar. O PT sairá mais forte do resultado desta eleição do em qualquer outro momento - disse o presidente, ao votar em São Bernardo do Campo.

As articulações que decidirão o futuro comando do PT são complexas. Mesmo que o presidente seja escolhido em primeiro turno, a executiva nacional será formada segundo a proporção de votos das chapas. Na hipótese de Berzoini vencer, com 52%, sua executiva terá 48% dos adversários. O PT estimava o comparecimento às urnas entre 200 mil e 300 mil petistas.

A expectativa é de que apenas 50% dos militantes que votaram no primeiro turno compareçam às urnas no segundo. Como na eleição de 2005, devem se engajar apenas filiados mais organizados, que costumam seguir os votos de suas correntes internas.

Acordos para o segundo turno

As negociações começam hoje, com a reunião do grupo Mensagem ao Partido, do candidato José Eduardo Cardozo. Líderes do grupo defendem a liberação do voto caso a disputa fique entre Berzoini e Tatto. Outros querem apoiar Berzoini. Cardozo disse que só amanhã terá uma decisão:

- A nossa postura será unitária.

Tatto declarou que, se perder, apoiará Cardozo:

- Vou fechar pelo Cardozo. Se eu for para o segundo turno, o grupo dele se dividirá. Parte da sua base virá para mim, e outra para o Berzoini.

O grupo de Tatto é dividido: a tendência Novos Rumos, de Ruy Falcão, deve apoiar Berzoini. Já o Movimento PT seguirá Tatto, se depender de um de seus líderes, Romênio Pereira, secretário de Organização. Para os outros grupos, mais à esquerda do partido, o mais importante é derrotar a CNB (Construindo um Novo Brasil), ex-Campo Majoritário.

- Vamos contra o Berzoini, seja quem for o candidato de segundo turno - disse Valter Pomar, candidato da Articulação de Esquerda.

Favorito, Berzoini avaliou que poderá vencer já no primeiro turno:

- Não comento segundo turno antes do resultado. Existe chance de ganharmos no primeiro turno. Se eu ganhar, a gente comemora e chama todos para a unidade partidária.

Lula foi discreto nos elogios a seu candidato:

- Todos estão aptos a dirigir o partido. Berzoini assumiu em um momento crítico, demonstrou habilidade - elogiou, referindo-se à crise do mensalão, quando o petista assumiu interinamente a presidência, e sem citar o caso do dossiê dos aloprados, que envolveu Berzoini. - Mas os outros candidatos também têm competência.

Segundo Lula, em 2005, os petistas demonstraram força ao irem às urnas durante a crise do mensalão:

- Foi demonstração de coragem 330 mil pessoas comparecerem para votar num momento em que o PT estava sendo atacado pelos quatro cantos. Os companheiros acreditavam que a gente ia dar a volta por cima.