Título: TV digital: R$1 bi para conversor
Autor: Tavares, Mônica; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 03/12/2007, Economia, p. 17

TECNOLOGIA NO AR

Na estréia das transmissões, Lula diz que BNDES terá linha para baratear caixinha no varejo.

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o BNDES terá um programa de R$1 bilhão para baratear os conversores para a TV digital. Lula citou o apoio à rede varejista. Mas uma fonte graduada da instituição informou ao GLOBO que, na sexta-feira, a diretoria do BNDES aprovou uma linha de crédito tanto para produção quanto para comercialização dos conversores, com condições bastante favoráveis. Normalmente, o banco aplica a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP, atualmente em 6,25% ao ano) mais um pequeno percentual. Hoje, os conversores chegam a custar R$1,1 mil.

- Assim, as vendas serão ampliadas, a adoção da nova tecnologia será acelerada e haverá aumento da produção nacional. Resultado: os preços dos conversores para o consumidor serão menores - disse Lula, em seu discurso no lançamento das transmissões da TV digital.

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirmou ter sido informado sobre a nova linha pelo próprio presidente, no caminho do aeroporto até a Sala São Paulo, local da cerimônia de lançamento.

- Vindo do aeroporto, o presidente me disse: "Olha, vou anunciar R$1 bilhão do BNDES para encontrarmos essas formas de baratear os conversores" - explicou Costa, que não descartou a possibilidade de o governo adotar incentivos fiscais semelhantes aos do programa Computador para Todos.

O BNDES já tem, desde o início do ano, uma linha para o setor: o Programa de Apoio à Implementação do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (Protvd), com R$1 bilhão.

Com o auditório da Sala São Paulo lotado - eram cerca de 1.200 convidados -, as emissoras de TV formaram uma cadeia nacional para apresentar a nova tecnologia a todo o país, embora neste momento ela só esteja disponível para a Região Metropolitana de São Paulo. Antes, apresentadores de seis redes fizeram uma espécie de "telejornal" para a platéia. Depois de seu discurso, Lula acionou simbolicamente as transmissões digitais, com um aparelho que simulava um controle remoto.

Também falaram durante a cerimônia a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e Costa. O ministro defendeu a escolha do padrão nacional e afirmou ainda que a interatividade, que não estará presente neste primeiro momento, já é tecnicamente possível (o sistema brasileiro que está sendo desenvolvido foi batizado de Ginga). E garantiu que o preço dos conversores vai cair:

- O Brasil entra hoje na modernidade. Teria sido muito fácil comprar um padrão estrangeiro, mas você, telespectador, pagaria o custo. Com sua visão social, o presidente Lula determinou que a nossa TV digital tem de ser gratuita para todos e vista também nos televisores em movimento e nos celulares.

Segundo Costa, durante dois anos, 1.200 engenheiros, cientistas e técnicos de 92 instituições públicas e privadas trabalharam na escolha. O padrão no país é nipo-brasileiro, mas o ministro afirmou que o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre tem as melhores ferramentas dos padrões japonês, europeu e americano.

- E com a marca da criatividade brasileira, o sistema operacional Ginga sem custo proprietário e com todas as possibilidades de criação que um software livre oferece. A interatividade já é tecnicamente possível e se ampliará por meio de um sistema inovador de internet de alta velocidade, que cobrirá o território nacional. Os programas de educação à distância têm de ser desenvolvidos pelas nossas universidades e empresas para atender às nossas necessidades. E o conversor vai cair de preço.

Para o presidente do Conselho de Administração da Gradiente, Eugênio Staub, a TV digital só "deve pegar mesmo" entre 2009 e 2010, quando haveria uma popularização dos preços. - O problema é que a tecnologia é nova e o circuito (o chip) é caro. Foi assim no início do DVD - disse Staub, pouco antes da cerimônia. - Está todo mundo inseguro neste início, por isso ninguém faz projeção (de vendas). Vai ser devagar, e a coisa vai pegar mesmo, com redução de custos, entre 2009 e 2010.

Sobre a concessão de mais incentivos, respondeu:

- Mais incentivo é sempre bem-vindo, mas não é isso que vai fazer a diferença.

Presidente da ToTVS (uma das empresas que vão fabricar o Ginga), Laércio Consentino disse que ainda no primeiro semestre de 2008 o software deve ser habilitado, e a idéia é lançá-lo "com toda a interatividade possível". Segundo ele, o custo do software por conversor será de R$5.

Dilma ressaltou o caráter social da TV digital e afirmou que o desenvolvimento de um sistema brasileiro já traz avanços para o país:

- Quando começamos, essa data parecia mais que uma quimera: uma temeridade, um momento fora do nosso alcance - disse.

O presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV (Abert), Daniel Pimentel Slaviero, disse que o padrão usado no Brasil é o melhor do mundo porque, além da qualidade de imagem de cinema e de som semelhante ao do CD, permitirá a mobilidade (TV em táxi, ônibus, trens e metrôs) e a portabilidade (no celular).

Slaviero garantiu que as emissoras vão cumprir os prazos determinados pelo governo para as transmissões da TV digital. No Rio, ela deverá começar entre abril e maio.

O prazo de transição da televisão analógica para a digital termina em 2016. Isso significa que o consumidor não precisa se apressar, porque as emissoras são obrigadas a transmitir nas duas tecnologias durante esse período.

A solenidade de ontem foi precedida de alguns desentendimentos entre as emissoras. Embora tivesse assento no Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital, um dos organizadores da festa, a TV Gazeta, não foi convidada para o lançamento. A Gazeta também não participou do vídeo apresentado no evento nem do pool de transmissão. Sexta-feira, o superintendente-geral da TV Gazeta, Sérgio Felipe dos Santos, enviou uma carta a Lula manifestando repúdio. Ontem, na hora do pool, uma apresentadora da Gazeta lia um comunicado em que dizia que a Fundação Cásper Líbero estava "indignada".