Título: Bolívia: MAS ameaça aprovar Carta sozinho
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 03/12/2007, O Mundo, p. 23

Partido de Morales faz advertência e abre ofensiva jurídica contra a oposição, que inicia hoje greve de fome contra reformas.

SANTA CRUZ DE LA SIERRA. O Movimento ao Socialismo (MAS), partido do presidente Evo Morales, ameaça aprovar sozinho o texto da nova Constituição boliviana caso a oposição se recuse novamente a participar da votação. Hoje, líderes civis de dois estados rebeldes iniciam uma greve de fome contra o governo Morales.

Enquanto prega o diálogo, o presidente abriu uma ofensiva jurídica contra a oposição. A Polícia Nacional instaurou um inquérito contra o Comitê Interinstitucional de Sucre, onde três pessoas morreram em confrontos no final da semana passada, para apurar as responsabilidades pelas manifestações.

- Queremos votar a Carta com a participação de todos os partidos, mas se a oposição se recusar vamos seguir adiante. Temos quórum e maioria para aprovar o texto - disse o constituinte Raúl Prada, do MAS.

Segundo ele, até amanhã a Assembléia Constituinte vai decidir o cronograma e local das sessões. O governo tem até o dia 15 para votar o texto em segunda instância. A Carta foi aprovada em primeira instância no final da semana passada em uma sessão fechada, sem a participação da oposição.

Aliados de Morales avaliam estratégias de votação

Em uma reunião realizada ontem em La Paz, Morales e seus aliados avaliaram uma série de estratégias. A mais provável é fazer uma única sessão no dia 14 para para votar em bloco e não artigo por artigo, como prevê a convocatória da Constituinte. Até lá, o texto será submetido a organizações sociais e sindicatos que dariam suposto apoio popular à Constituição. O argumento governista é que a oposição de direita não quer a refundação proposta na Carta e tenta impedir sua aprovação.

- Estamos afinando o texto para que seja votado por temas. Se formos ler artigo por artigo será sem muito debate - disse o constituinte governista Ramón Loyaza.

A contrariedade em relação à forma como o texto foi votado é a principal bandeira da oposição que inicia hoje uma greve fome nos estados de Santa Cruz e Beni. Além disso, os estados reclamam da aprovação da Lei de Renda e Dignidade, também sem a participação da oposição, e da repressão policial em Sucre.

Ontem, Morales abriu uma ofensiva jurídica contra a oposição. A polícia instaurou uma investigação para averiguar a participação de líderes do Comitê Interinstitucional de Sucre nos embates que deixaram três mortos. O presidente sustenta que o comitê usou franco-atiradores contra a polícia no fim de semana.