Título: Concessões para turbinar Dilma
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 19/04/2009, Política, p. 10

PT está disposto a abrir mão de candidaturas a governador se legendas aliadas apoiarem a ¿mãe do PAC¿ em 2010. Caso aceite a proposta, o PSB terá ajuda dos petistas em Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Berzoini (D) é um dos interlocutores petistas envolvidos nas negociações para fortalecer Dilma. O PT está disposto a abandonar o ¿hegemonismo¿ que marcou o partido no início da década. Tudo para fortalecer a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. A cota de sacrifício será paga nas disputas pelos comandos estaduais. Se as negociações em curso resultarem em acordo, os petistas abrirão mão de ter candidatos a governador em pelo menos uma dezena de estados. A concessão será feita se as demais legendas governistas assumirem o compromisso de não lançar candidatura própria ao Palácio do Planalto, aderindo à chapa encabeçada pela ¿mãe do PAC¿. ¿Já há mais compreensão no PT sobre a importância das alianças regionais para a composição do quadro nacional¿, diz o presidente da sigla, deputado Ricardo Berzoini (SP).

Ciente do plano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ungir Dilma concorrente única da coalizão governista, o PT já procurou o PSB, que ensaia lançar o deputado federal Ciro Gomes (CE) no páreo da sucessão. Fez a seguinte proposta: caso o parlamentar não dispute em 2010, os socialistas terão o apoio petista em Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Nos dois primeiros estados, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, e Cid Gomes, irmão de Ciro, tentarão a reeleição. ¿Esse é o cenário hoje. A única coisa que pode atrapalhar o acordo é o PSB lançar candidatura presidencial¿, afirma o ex-prefeito do Recife João Paulo, coordenador informal da campanha de Dilma na Região Nordeste. No roteiro atual, João Paulo tentaria uma vaga no Senado na chapa de Campos à reeleição.

Nas últimas semanas, o PT deu um passo importante na tentativa de seduzir outra sigla do chamado Bloco de Esquerda para o palanque da chefe da Casa Civil. Esposa do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, a petista Gleisi Hoffmann sinalizou que aceita ficar de fora da corrida ao governo do Paraná em favor do senador Osmar Dias (PDT). Pelas conversas em curso, a dobradinha seria Gleisi para o Senado e Dias para o comando estadual. Com tal movimento, os petistas esperam dissuadir o PDT da ideia de lançar o senador Cristovam Buarque (DF) em 2010.

PMDB A prioridade de Lula e Dilma é consolidar uma parceria formal com o PMDB. Se possível, ter um peemedebista como vice na chapa da ministra. As negociações são feitas com cautela, já que as siglas desconfiam uma da outra. Dirigentes nacionais petistas já mostraram disposição de ceder em Goiás, Maranhão, Amazonas e Rio de Janeiro. No caso dos três primeiros estados, a conversa transcorre de forma tranquila. No Amazonas, o PT topa apoiar tanto um nome indicado pelo governador Eduardo Braga (PMDB), que não pode mais concorrer à reeleição, quanto do PR ¿ no caso, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. No Rio de Janeiro, no entanto, a situação está fora de controle.

Prefeito de Nova Iguaçu, o petista Lindberg Farias quer concorrer ao Palácio das Laranjeiras contra o atual governador, Sérgio Cabral (PMDB). Lula já deixou claro estar fechado com Cabral. Quer Dilma ao lado do peemedebista no palanque. O presidente também sabe que o ¿enquadramento¿ de Lindberg é importante como moeda de troca. Pode ser usado para impedir que, na Bahia, o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) desista de pleitear uma vaga no Senado para bater de frente com o governador Jaques Wagner (PT), que tentará a reeleição. ¿A conversa com o PMDB é difícil. Eles podem colocar uma série de demandas¿, declara um dirigente petista.

Já Berzoini prefere um discurso de conciliação: ¿O PT não deve se recusar ao debate em nenhum lugar¿. O tal debate está em curso, mas não deve impedir disputas entre as duas maiores siglas da base governista. A tendência é que elas ocorram, por exemplo, em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Se depender do Palácio do Planalto, Dilma se aproveitará de ambos os palanques nesses locais. Em São Paulo, o PT lançará o ex-ministro Antonio Palocci caso a vontade de Lula seja respeitada. Mantido o cenário atual, o petista não terá a ajuda do diretório paulista do PMDB, comandado pelo ex-governador Orestes Quércia, que está fechado com o PSDB.