Título: EUA e oposição questionam vitória de Putin
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 03/12/2007, O Mundo, p. 24

Partidos contestarão resultado do pleito parlamentar e Casa Branca pede investigação.

MOSCOU. Dois partidos de oposição anunciaram que contestarão na Justiça o resultado das eleições para a Duma (câmara baixa do Parlamento russo), que, de acordo com números preliminares da Comissão Central Eleitoral, foram vencidos com mais de 63,3% pelo Rússia Unida, partido do presidente Vladimir Putin. A Casa Branca, em comunicado divulgado por seu porta-voz, Gordon Johndroe, pediu ontem que se iniciem investigações sobre irregularidades no pleito.

Os comunistas, reunidos no segundo partido mais votado do pleito de ontem, e a União das Forças de Direita, que não chegou nem perto dos 7% previstos para eleger deputados, não se conformam com as condições que levaram à esmagadora vitória do partido situacionista. O líder dos comunistas, Gennady Ziuganov, afirmou que estas foram as eleições mais sujas e irresponsáveis já realizadas no país.

- Eles conseguiram pelo menos 15 maneiras de enganar os eleitores - disse.

Onze partidos concorreram às 450 cadeiras da Casa, mas sete devem ficar fora. Os resultados preliminares da contagem indicavam que os nacionalistas do LDPR e os governistas do Rússia Justa também devem se eleger.

Campanha buscou atrair eleitores

Este é o quinto Parlamento eleito na Rússia desde a queda da União Soviética. Com a eleição, a casa, de mais de cem anos, se renova pela quinta vez consecutiva.

Em várias seções eleitorais, as pessoas foram recebidas com festa, lanches e música. Esta foi uma das formas de atrair os eleitores, que mostravam pouco interesse pelo pleito nas semanas que o antecederam. Em Moscou, sob um frio de sete graus Celsius negativos, havia bandeiras da Rússia por toda parte. Nos velhos ônibus sujos pelo sal usado para derreter a neve nas largas avenidas, as bandeiras nacionais pareciam novas em folha.

A alguns quarteirões da Praça Vermelha, chamava atenção a imagem dos soldados enfileirados no meio do gelo, na saída da seção eleitoral em que votaram.

Nas últimos dias, realizou-se uma grande campanha para sensibilizar a população. Folhetos e cartazes foram distribuídos pela cidade. Até as companhias telefônicas mandaram mensagens aos clientes pedindo que comparecessem às urnas. Na Rússia, o voto não é obrigatório, mas campanha maciça pode ter surtido efeito. A comissão eleitoral estimava em 60% o número de eleitores pressentes. Se confirmado, esse número terá superado os 56% de 2003.

A Golos, ONG financiada por recursos americanos e europeus, também criticou o pleito e afirmou ter observado irregularidades desde os preparativos das eleições. Entre as denúncias, estão a intimidação contra os partidos de oposição e seus funcionários, com a apreensão de materiais e prisões. Além disso, afirma que eleitores foram "fortemente incentivados" a votar de certa maneira nas universidades, empresas públicas e privadas.

Para Kasparov, eleição lembrou período soviético

O ex-enxadrista e líder opositor Garry Kasparov fez um voto de protesto marcando na cédula todos os partidos. Kasparov denunciou irregularidades e disse que esta eleição lembra o período soviético em que não havia opção. O campeão, contudo, não participou das eleições de ontem porque a coalização Outra Rússia, liderada por ele, não conseguiu se registrar como partido.

A maioria dos partidos políticos reclama da falta de acesso à imprensa e que o material de campanha está sendo destruído e recolhido. Apesar das críticas da oposição, os russos hoje se sentem mais livres do que no tempo de Yeltsin. A própria imprensa escrita tem mais liberdade que antes.

- O grande problema ainda é a liberdade de expressão. Mas a verdade é que as pessoas estão satisfeitas de maneira geral. Ainda mais quando comparam ao período de Bóris Yeltsin. O pacote estabilidade econômica e liberdade de expressão hoje agrada mais do que no passado - analisou o consultor do Centro Carnegie em Moscou, Nicolay Petrov.

Em volta da Comissão Eleitoral, o esquema era de segurança total. A rua foi bloqueada e havia diversos policiais e barreiras. Para entrar no edifício, era preciso mostrar os documentos várias vezes.

Com agências internacionais