Título: Horas lançadas antes da emissão das licenças
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 02/12/2007, O País, p. 10

Piloto de linha aérea, mecânico e co-pilotos de helicóptero suspeitos.

BRASÍLIA. Entre os processos com suspeitas de irregularidades estão os dos co-pilotos de helicóptero Marcelo Campagnac Naim, Paulo Roget Araújo Marques, José Roberto Abade do Carmo Cerqueira, Frederico Rubem Thomas, Gustavo Gaiher Marques, Alexandre Torres da Rocha e Luciano Girundi Ribeiro. Também aparecem na lista o piloto de linha aérea Marcelo de Biase e o mecânico de manutenção aeronáutica Elvis Alves da Costa, que teria feito somente a prova prática na revalidação da sua licença.

Gustavo Marques, por exemplo, teve 526,9 horas registradas no sistema em maio de 2002, mas o Certificado de Homologação Técnica (CHT), habilitação comparável à carteira de motorista, foi emitido um ano depois. Ele nega envolvimento nas irregularidades. Disse que é piloto há quatros, mas que não se lembrava da data de emissão do CHT e que transportou passageiros, mas não tinha carteira assinada:

- Não tenho conhecimento disso. Se o meu nome consta em algum processo, tenho de ser notificado.

Em processo semelhante, constam 618,3 horas lançadas no sistema para Alexandre Rocha em maio de 2002. O CHT, no entanto, foi emitido em dezembro de 2005. Procurado, o piloto se negou a falar do assunto:

- Infelizmente, não posso te atender agora. Estou ocupado e não posso atender. Isso é surpresa para mim.

Sindicância suspeita até de treinamento em simulador

A situação se repete com os co-pilotos de helicóptero Marcello Naim, Frederico Thomaz e Luciano Ribeiro. Eles foram procurados, mas não responderam aos recados. Já Paulo Roget Marques teria obtido habilitação em vôos por instrumento, sem passar pela prova teórica, e Roberto Abade Cerqueira teria dado entrada na documentação e desistido do exame prático. Os dois não foram localizados.

Também chama atenção o processo do piloto de linha aérea Marcelo de Biase, que teria sido beneficiado com o lançamento de 2.680,3 horas no sistema em maio de 2002, enquanto sua habilitação como piloto privado rural só foi emitida em março de 2006. Também consta no seu processo treinamento em simulador da Varig, que não se confirmou numa verificação posterior da equipe responsável pela sindicância. Ele também não foi encontrado, e estaria numa viagem ao exterior.

A assessoria de imprensa da Anac confirmou as suspeitas de irregularidade e a realização de sindicância para apurar os fatos. Ainda de acordo com a assessoria, foi a própria gerência regional que descobriu os fatos e acionou a Corregedoria. Fontes do setor afirmam que as fraudes só vieram à tona porque o órgão regulador é hoje uma agência, que conta com auditorias externas, ouvidoria e corregedoria.