Título: TV Brasil estréia hoje com grade improvisada
Autor: Franco, Bernrado Mello
Fonte: O Globo, 02/12/2007, O País, p. 11

Nova programação só deve começar em março, e ainda parece ser uma incógnita para a cúpula da rede pública

BRASÍLIA. A TV Brasil estréia ao meio-dia de hoje em três estados e no Distrito Federal, mas atravessará o verão com uma grade improvisada. Até 16 de março, quem sintonizar a nova rede pública vai encontrar quase toda a atual programação da TVE do Rio, mesclada a alguns documentários e especiais cedidos por emissoras estaduais. O único programa inédito será o "Repórter Brasil", um telejornal noturno ancorado, a partir de amanhã, em Brasília, Rio e São Paulo.

O descompasso entre o calendário original da TV e as dificuldades para criar novas atrações em pouco tempo levou o governo a mudar o discurso nos últimos dias. Com discrição, os responsáveis pela emissora trocaram o entusiasmo da estréia pelo lema cauteloso da transição.

- Para estrear, uma TV tem que ter programação, vinhetas e identidade visual próprias. Nós ainda não temos nada disso - reconhece a presidente da recém-criada Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Tereza Cruvinel.

O que vai ao ar a partir de março ainda parece ser uma incógnita até para a cúpula da emissora. Segundo o diretor-geral, Orlando Senna, as idéias estão sendo discutidas internamente e serão submetidas a uma série de consultas ao público e ao futuro Conselho Curador da rede. A grade definitiva só deve ser estabelecida em julho, depois de mais três meses de testes e pesquisas.

- Não estamos apresentando um canal pronto. O conceito da TV Brasil será desenhado com a população. Vamos abrir um amplo diálogo na sociedade e construir a rede com essa retroalimentação popular - teoriza ele.

Os planos de investir na produção de seriados, telefilmes e documentários ainda estão em esboço, mas já lançaram uma sombra de incerteza sobre a produção da TVE. Senna admite que até atrações tradicionais, como os programas de debates "Espaço público" e o "Sem censura" (no ar desde 1985), podem estar com os dias contados.

- Se o público quiser, eles ficam. Tudo vai depender das consultas - avisa.

Nos corredores da TVE no Rio, a tensão se agravou na última sexta-feira com o afastamento da presidente Beth Carmona e da diretora-geral Rosa Crescente, que comandaram a ascensão da TV Cultura paulista nos anos 90. Pedindo anonimato, apresentadores e jornalistas se queixam de falta de transparência da nova gestão, que ainda não informou o que fica e o que sai do ar.

A estratégia traçada em Brasília é mexer na grade aos poucos, aproveitando o recesso de férias e o fim de contratos com produtoras independentes. Contrariada com os novos rumos, Rosa Crescente adverte que uma ruptura radical pode trazer resultados inesperados.

- Espero que eles mantenham os programas que têm formato consagrado e identificação com o público. Toda TV vive do hábito dos espectadores. Antes de conquistar um novo público, é bom não perder o que já existe.