Título: Apoio baseado no sucesso das missões
Autor: Galeno, Renato
Fonte: O Globo, 02/12/2007, O Mundo, p. 45

Projetos resgataram confiança da população pobre, que se sentia abandonada há décadas.

CARACAS. Até mesmo a oposição a Hugo Chávez reconhece de forma tácita uma coisa: o presidente venezuelano é extremamente popular. Toda a campanha contrária à reforma constitucional frisa que a eleição de hoje nada tem a ver com a continuidade do governo Chávez.

A explicação de diferentes especialistas converge para um mesmo fator: o fracasso da elite política venezuelana no combate à pobreza no país durante os 40 anos que antecederam a primeira eleição do presidente, em 1998. Foi necessário que Chávez chegasse ao poder para que, pela primeira vez, milhões de moradores das favelas de Caracas, por exemplo, tivessem tratamento médico do Estado.

¿ Este é um elemento essencial. Uma imensa parte da população nunca recebera absolutamente nada do Estado. Ou melhor, apenas repressão policial ¿ analisa o cientista político espanhol Juan Carlos Monedero, radicado na Venezuela. ¿ Os programas sociais iniciados com a chegada de Chávez ao poder foram uma mudança total na relação entre a população e o Estado, que passou a oferecer saúde, alimentação, educação.

Os programas sociais de Hugo Chávez são chamados de ¿missões¿. A principal é a Missão Barrio Adentro, que constrói pequenos centros hospitalares de dois andares dentro de favelas e bairros carentes. Eles oferecem atendimento médico e, muitos deles, odontológico, para os moradores.

¿ As missões têm um papel fundamental nisso. É difícil falar de números absolutos, mas foram milhões de atendimento médicos. O percentual de pessoas que passaram a ter esse atendimento aumentou brutalmente ¿ diz Monedero, professor da Universidade Complutense, de Madri.

O programa recebeu muitas críticas por trazer para a Venezuela milhares de médicos cubanos, que recebem bem menos do que o piso salarial venezuelano ¿ mas, ainda assim, mais do que em Cuba. Os sindicatos de médicos venezuelanos fazem campanha contra o Barrio Adentro, por não contratar médicos do país. Apesar disso, o programa é elogiado por entidades como o Unicef e a Organização Mundial da Saúde.

Outros programas, de sucesso menos comprovado, são os de educação secundária e universitária ¿ missões Robinson e Sucre ¿, e de construção de casas populares (Hábitat).

Desabastecimento gerou ameaças do governo

Nos últimos meses, o programa Mercal, de mercados com produtos a preço de custo, passou a criar dores de cabeça para o governo. O desabastecimento de produtos como leite de carne, e as grandes filas, motivaram ameaças do presidente contra produtores.

De qualquer forma, mesmo analistas críticos do governo Chávez reconhecem que os programas do governo buscam recuperar uma dívida histórica com a população.

¿ Sem dúvida, Chávez ganhou popularidade devido aos erros dos partidos que governaram o país por 40 anos, negligenciando uma grande parte da população ¿ diz o cientista político Carlos Luna.

Um dos grandes problemas com os programas sociais do governo, no entanto, é a falta de transparência.

¿ Não há cifras oficiais. Não se sabe quanto se gasta em cada uma das missões nem em todas elas como um todo. Se sabe que se gasta muito. Ou seja, não há como avaliar. Não há estatísticas oficiais confiáveis sobre o programa, portanto não se pode comparar os gastos e a eficácia das missões em relação a programas de outros países ¿ afirma o economista José Guerra.