Título: Metade dos alunos chega ao 9º ano sem saber dividir
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 01/12/2007, O País, p. 3

BRASÍLIA. Com 416 alunos no ensino fundamental, a Escola Municipal 4 de Outubro, em José da Penha, no Rio Grande do Norte, tem apenas um professor de matemática com diploma de licenciatura na disciplina. Em 2005, o município tirou a segunda pior nota do país em matemática na Prova Brasil, teste aplicado pelo Ministério da Educação na rede pública.

O professor Jocivaldo Fontes de Araújo, de 31 anos, leciona nas turmas de 7ª e 8ª série, o equivalente ao 8º e 9º ano onde o ensino fundamental dura nove anos. Ele conta que 50% dos alunos chega ao fim do ensino fundamental sem saber sequer as quatro operações básicas:

- Metade dos estudantes chega ao 9º ano sem saber dividir.

José da Penha fica a 450 quilômetros de Natal. A 4 de Outubro é a única escola urbana do município e, portanto, o seu desempenho na Prova Brasil acabou sendo a nota do município, uma vez que o exame não avalia escolas rurais.

Jocivaldo diz que os problemas de aprendizado têm causas tanto na escola como na situação socioeconômica das famílias da região. Assim como não tem aulas de reforço, a maior parte dos estudantes tampouco recebe apoio familiar.

- O problema vem lá de trás. A gente até consegue atingir alguns objetivos, mas muita coisa não. Tento atrair a atenção dos alunos usando jogos de xadrez e damas, indo para a rua calcular a velocidade dos carros e a altura dos prédios a partir de sua sombra - conta o professor.

Seus colegas de magistério fizeram outros cursos superiores, como pedagogia, por exemplo, ou apenas o ensino médio. No Brasil, 85% dos docentes de ensino fundamental têm nível superior. Jocivaldo estudou na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, no campus de Pau dos Ferros, no oeste do estado.

O integrante do Conselho Nacional de Educação e ex-secretário do MEC Antonio Ibañez diz que o governo federal deveria tomar ações emergenciais. Ele sugere que o MEC vá aos estados e reúna os governos estaduais, as prefeituras e as universidades para evitar que faltem professores no próximo ano letivo. Segundo ele, ações de médio e longo prazo são importantes, mas não é possível para ficar esperando:

- Qualquer coisa é melhor do que não fazer nada.